O Globo, n. 32535, 04/09/2022. Política, p. 14

Ex-aliados , Moro e Alvaro Dias se enfrentam pelo Senado



A disputa ao Senado pelo Paraná tem na linha de frente dois antigos aliados: o senador Alvaro Dias (Podemos) e o ex-juiz Sergio Moro (União), que caiu de paraquedas em sua terra natal após ter o domicílio eleitoral em São Paulo negado pela Justiça. Com o andar da campanha, o senador e o ex-juiz passaram da troca de farpas para ataques mútuos.

Dias foi um dos principais responsáveis pela entrada de Moro na política, mas a relação dos dois ficou abalada com a saída repentina do ex-ministro de Jair Bolsonaro do Podemos e da disputa presidencial. O desconforto aumentou com a disputa pela mesma vaga.

Além de já terem feito parte do mesmo partido, os dois têm em comum o discurso de combate à corrupção e de defesa da Operação Lava-Jato.

Em uma escalada no embate eleitoral, Moro acusa o Podemos, de Alvaro Dias, de não tomar medidas contra suspeitas de corrupção interna, e afirma que condicionou a sua permanência no partido à contratação de uma auditoria externa para apurar possíveis irregularidades.

A sigla, por sua vez, sustenta que Moro beneficiou a empresa de um amigo advogado, que supostamente não teria apresentado relatórios de prestação de serviço referente ao trabalho de formulação do programa de governo do ex-juiz. E que o ex-juiz exigiu reembolso do fundo partidário para repaginar o visual com roupas de grife. Os dois lados ameaçam ir à Justiça para resolver a contenda.

Antes, o ex-juiz chegou a negar que Dias tenha sido seu padrinho político. O senador, por sua vez, classificou o assunto como um “debate menor”. Pessoas próximas do senador disseram que ele ficou magoado com Moro.

Segundo a última pesquisa Ipec, Dias lidera com 35% das intenções de voto, seguido de Moro, com 24%. Correndo por fora está ainda Paulo Martins (PL), que marcou 4%.

Embora Martins esteja distante dos dois primeiros colocados, dois fatores preocupam os adversários: o percentual de 79% de indecisos na pesquisa espontânea e o fato de ele ter o apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL).

O cientista político Bruno Bolognesi, coordenador do Laboratório de Partidos e Sistemas Partidários da Universidade Federal do Paraná (LAPeS/UFPR), afirma que o lavajatismo e o apoio a Moro estão mais concentrados na capital, Curitiba, enquanto Dias tem ampla vantagem no interior do estado. Dias está em seu quarto mandato de senador, sendo o terceiro consecutivo.

— Alvaro (Dias) é um político tradicional, tem apoio político, e toda uma estrutura que está colocada já há muitos anos pelo estado. Além disso, ele tem força no interior e é ligado ao agronegócio — afirma Bolognesi. O especialista acredita que os percalços de Moro na vida política devem atrapalhar sua campanha. O ex-juiz deixou o governo acusando Bolsonaro de interferir indevidamente na Polícia Federal. Em esforço para atrair de volta apoiadores de Bolsonaro, o ex-ministro publicou um vídeo no qual diz que ele e o presidente têm “o mesmo adversário”, em referência ao ex-presidente Lula (PT). Em outra peça publicitária, Moro, que é chamado de traidor por apoiadores de Bolsonaro, afirma que “traição é abandonar os seus princípios e valores”.