Título: Descoberto sumiço de mais cocaína no Rio
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 22/10/2005, Rio, p. A13
Relatório aponta irregularidades e recomenda prisão de agentes
BRASÍLIA - A Polícia Federal descobriu 22 tipos de irregularidades nos depósitos de drogas da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da Superintendência do órgão no Rio. As irregularidades vão desde a ''subtração'' de drogas até a elaboração de laudos periciais ''imprecisos''. Relatório interno da PF recomenda a instauração de oito procedimentos disciplinares, com demissão de sete policiais. Entre as principais irregularidades estão o desvio de 90 quilos de cocaína. Parte da droga do depósito foi trocada por areia, gesso e outros materiais ainda em análise. Foram encontrados 600 quilos de maconha em situação irregular. Pelo menos 200 quilos estavam desprovidos de qualquer referência a procedimentos instaurados, impedindo a incineração e abrindo a possibilidade de desvio.
Outra irregularidade encontrada foram os laudos fraudulentos para omitir parte da droga. Um dos artifícios para ocultar a verdadeira quantidade de entorpecente apreendido era não apurar a massa líquida de cocaína misturada a outros produtos, onde se incluem apreensões de drogas guardadas em 40 rolos de pintura, 60 chuveiros ou em mais de 200 maçanetas de metal. Há casos em que era apreendida uma quantidade bem superior ao que era registrado no papel.
Um dos relatórios pede a demissão de sete policiais que formavam a quadrilha Seven. O grupo está envolvido com o roubo de mais de R$ 2 milhões apreendidos durante a Operação Caravelas, em setembro.
A Corregedoria da PF vai instaurar 22 sindicâncias internas para investigar cada uma das irregularidades encontradas no Rio. A conclusão da PF é de que elas poderiam ter sido evitadas, se as chefias da DRE agissem preventivamente.
A PF fez 10 recomendações internas para melhorar a administração do órgão no Rio. Uma das conclusões, no entanto, é que as drogas, quando não são destruídas, provocam efeitos perniciosos e abrem uma porta para a corrupção. Os depósitos de drogas são considerados locais sensíveis aos ataques de quadrilhas e é obrigação manter controle permanente.
A PF no entanto, concluiu que o controle permanente é ''impossível diante da fragilidade da estrutura no Rio''. Significa que é necessário uma mudança em nível de legislação, para permitir que as drogas sejam incineradas no momento em que são apreendidas. Uma das sugestões que a PF fez ao governo é a de instituir legislação que permita a destruição rápida das drogas.
A legislação determina que os entorpecentes sejam destruídos após o processo transitado em julgado. Muitas vezes, toneladas e toneladas de cocaína ficam guardadas em depósitos à espera de decisão judicial. Para os especialistas em drogas da PF, é possível a destruição de maior parte da droga, mantendo-se parcela para contraprova de exames periciais.
Em março, o Jornal do Brasil mostrou que grandes quantidades de drogas ficam armazenadas por até sete anos nos depósitos da PF, algumas de alta-combustão, como lança-perfume e produtos químicos utilizados no refino da cocaína. Alguns depósitos de drogas correm risco de explosão.