Título: Nova técnica reduz riscos do paciente
Autor: Claudia Bojunga
Fonte: Jornal do Brasil, 25/10/2005, Saúde & Ciência, p. A13

Uma prática desenvolvida pelo cardiologista brasileiro Eduardo Saad diminui os riscos da intervenção cirúrgica para combater a fibrilação atrial, uma arritmia cardíaca grave, que pode causar derrame. O trabalho, premiado em setembro pelo 60º Congresso da Sociedade Brasileira de Cardiologia, conseguiu aperfeiçoar o método de introdução de cateteres, em que tinham sido notificados três casos de morte na literatura médica. A novidade é o monitoramento da temperatura corporal.

- O que se observou, em termos de chance de cura foi, em geral, de 85%. E depois da realização do segundo procedimento, caso fosse preciso, as chances de cura eram de 94% - afirma ao JB Saad, coordenador do Centro de Fribrilação Atrial do hospital Pró-Cardíaco, do Rio de Janeiro.

A técnica foi realizada em 36 pacientes do hospital Pró-Cardíaco entre 2004 e 2005. Todos os indivíduos foram acompanhados durante seis meses.

Segundo o médico, apesar das complicações, a inserção dos cateteres no coração para a cura da fibrilação atrial foi um grande avanço. O paciente fica internado apenas um dia. Antes do método, os únicos tratamentos possíveis eram remédios ou a cirurgia cardíaca, muito invasiva - já que é necessário abrir o tórax do paciente.

A fibrilação atrial consiste em uma falha no marcapasso natural do coração, que controla a atividade elétrica do órgão. Os átrios, as duas cavidades superiores, recebem uma quantidade de impulsos além do normal, o que acelera de forma descoordenada os batimentos cardíacos. Os sintomas são palpitação e falta de ar. Uma em cada quatro pessoas a partir de 40 anos tem o mal.

- O coração fica chacoalhando, não contrai como deveria - explica Saad.

O procedimento, melhorado pelo cardiologista, consiste em impedir que as descargas elétricas vindas do pulmão cheguem por quatro cavidades no átrio esquerdo (ver figura), atacando a causa do problema. Para isso, são utilizados três cateteres - tubos finos introduzido a partir da virilha, enfiados em veias até o coração. Essas sondas vão possibilitar a cauterização no entorno das cavidades coronárias, criando uma espécie de isolante natural. São provocadas, então, leves queimaduras no local que o isolam eletricamente.

Justamente no momento da cauterização que constatou-se a complicação em três pacientes. O calor do cateter fez com que o coração se fundisse ao esôfago - que une a faringe ao estômago.

- Nesse caso, ou o sangue do coração invade o esôfago ou o ar do esôfago vai para o coração. É morte na hora - explica o médico.

Para evitar que isso acontecesse Saad desenvolveu um método em que é introduzida pelo nariz uma cânula que atua como termômetro. Assim, o esôfago é monitorado o tempo todo durante a intervenção cirúrgica. Quando os médicos verificam que ocorre um aumento de temperatura capaz de causar algum dano ao organismo, é diminuída a intensidade do calor gerado para a cauterização.

O bancário Marcelo Bessa, de 36 anos, foi um dos pacientes submetidos ao novo procedimento. Ele descobriu que tinha fibrilação atrial no final do ano passado e, depois de não conseguir resolver o problema com medicação, decidiu passar pela intervenção cirúrgica.

- A minha qualidade de vida melhorou muito. Nunca mais senti nada. Antes, não conseguia dormir porque meu coração batia muito acelerado. No começo, acontecia de três em três dias, depois foi aumentando e passou a ocorrer todas as noites - conta. - Saía de um batimento de 60 por minuto, para 120 por minuto. Era tão forte que, em certos momentos, não conseguia nem falar. Era horrível.

Acima de 60 anos, a fibrilação atrial é um das principais causa de derrames. Estão especialmente expostos ao mal pacientes que já tiveram problemas cardíacos.

- O que não quer dizer que as outras pessoas também não possam ser atingidas - realça Saad.

Mas nem sempre o diagnóstico é simples, daí a importância de se consultar um médico.