Título: UnB cria cães de proveta
Autor: Renata Camargo
Fonte: Jornal do Brasil, 25/10/2005, Brasília, p. D3

Os sete filhotes mal abriam o olho. Enquanto a mãe enciumada olhava desconfiada, o pai babão não parava de elogiar e ressaltar a singularidade de cada um.

- Esse é o que mais parece com a mãe. Tem o pêlo cinza, a cor mais rara da raça - dizia orgulhoso Emmanuel Oliveira Guimarães.

A madrinha, por sua vez, dava dicas de como cuidar das pequenas criaturas cinzas. Os sete filhos caninos da raça American Staffordshire Terrier são o mais novo orgulho da Universidade de Brasília (UnB). Eles são frutos da primeira experiência da universidade com a técnica de inseminação artificial em cães.

- Não é uma técnica inédita, mas foi nossa primeira tentativa e teve muito sucesso - afirma a veterinária e professora Carolina Madeira Lucci, madrinha das crias.

Os filhotes nasceram no dia 8 de outubro. Na quinta-feira, dia 20, pela manhã, Carolina realizou a primeira visita aos afilhados. Ela estava acompanhada do dono - ou pai dos filhotes -, o estudante de Educação Física da Universidade Católica de Brasília Emmanuel Oliveira Guimarães, 22 anos, e da co-responsável pela experiência a professora de Biologia Animal Cristiane Andrade Amorim.

- São lindos! E estão todos muito sadios - disse ao vê-los.

A partir desta primeira experiência, a técnica está disponível no Hospital Veterinário da UnB. ''Ofereceremos o serviço a um preço inferior ao do mercado. A vantagem é que popularizaremos a técnica, dando acesso a quem antes não teria'', diz Carolina.

Deu certo - Emmanuel procurou especialistas da UnB por recomendação de um amigo. O estudante já havia tentado a inseminação artificial em uma clínica particular da cidade, mas a tentativa foi frustrada.

- A Hera (nome da mãe dos filhotes) tem um temperamento muito difícil. Ela não estava aceitando a presença do macho - explica.

A expectativa em torno da nova inseminação era grande. No dia em que a cadela entrou em trabalho de parto, Emmanuel, literalmente, dormiu dentro do canil.

- Eu coloquei uma cadeira aqui dentro e fiquei esperando nascer. Ainda bem que eu estava por perto, porque para nascer o primeiro filhote eu tive de rasgar a bolsa - conta. Foram mais de oito horas entre o início do trabalho de parto e o nascimento do último filhote.

- Eu não agüentei. Dormi! Não vi todos os filhotes nascerem - conta.

Oito filhotes nasceram e sete sobreviveram - duas fêmeas e cinco machos. A intenção de Emmanuel é perpetuar a raça. Ele deve vender os filhotes também.

Carolina explica que o método pode ser usado para manter cães de raças raras

A inseminação artificial é uma técnica utilizada quando a reprodução animal não pode se dar de forma natural. Por ser uma técnica relativamente onerosa, só deve ser utilizada se for necessário. Ela é justificada quando os animais têm dificuldades de acasalamento como, por exemplo, à não aceitação do macho por parte da fêmea ou a incompatibilidade de tamanho entre os dois.

- É interessante também quando o macho e a fêmea estão em regiões distantes. Às vezes, há poucos animais de uma raça na cidade e pode-se trazer o sêmen de fora - diz Carolina.