Título: ESTUDO IDENTIFICA QUASE 900 CONFLITOS URBANOS
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 14/11/2005, Rio, p. 9

Um estudo do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur/UFRJ), em parceria com a Câmara de Vereadores do Rio, identificou 881 conflitos sociais urbanos na cidade entre 1993 e 2003, o que dá uma média de 80 por ano e mais de seis por mês. O mapeamento, inédito, foi feito com base em manifestações populares noticiadas pela imprensa e em ações movidas pelo Ministério Público, fatos que, para os pesquisadores, representam conflitos urbanos.

De acordo com o levantamento, que será lançado depois de amanhã, a maior parte dos conflitos (287 ou 32%) aconteceu na área de segurança. Como o protesto de moradores da Favela Nova Holanda, na Maré, em 29 de agosto de 2001, contra a construção de um batalhão de Polícia Militar na comunidade. Durante a manifestação, houve um tiroteio que deixou três pessoas feridas. Os moradores temiam que a obra prejudicasse o projeto da vila olímpica da Maré. Tanto o quartel quanto a vila acabaram sendo construídos.

Conflitos foram identificados a partir de manifestações

Outra manifestação mencionada na pesquisa é a passeata que ocorreu em novembro de 1995, na Praia do Leblon, para exigir o fim da onda de seqüestros que aterrorizava o Rio.

¿ Das ações estudadas, 90% são manifestações de rua ou passeatas ¿ diz Breno Pimentel Câmara, pesquisador do Ippur.

O mapeamento mostra ainda que os conflitos urbanos na área de segurança ocorreram principalmente em regiões de favelas ou em suas imediações: Vigário Geral (18), Maré (15), Tijuca (14), Cidade de Deus (11) e Jacarepaguá (oito).

Em segundo lugar, na lista de objetos de conflito, aparecem os distúrbios relacionados à ocupação das vias públicas: 118. Como, por exemplo, o confronto entre camelôs, guardas municipais e policiais militares que aconteceu no Centro do Rio, em 26 de novembro de 2003, deixando nove pessoas feridas e 37 ambulantes detidos. Devido ao tumulto, lojas de dez ruas foram fechadas.

As demandas relativas ao transporte ¿ como protestos de passageiros contra aumentos de passagem, manifestações de taxistas e de donos de vans ¿ ocupam o terceiro lugar no ¿Mapa dos Conflitos Sociais Urbanos da Cidade do Rio de Janeiro¿, com 115 casos. Como a carreata de taxistas pelas ruas do Centro, em 27 de junho de 2000, para protestar contra decreto do então prefeito Luiz Paulo Conde que concedia autonomia a motoristas auxiliares. Na época, os taxistas estacionaram os carros sobre a calçada em frente à Câmara de Vereadores, tumultuando o trânsito no Centro.

As questões relacionadas à legislação urbana e ao uso do solo também motivaram grande número de manifestações: 52. Em abril de 2000, moradores de Botafogo protestaram contra o projeto da prefeitura de instalar um cais na enseada e recuperar a orla. Eles alegavam que a enseada era tombada e não poderia ser modificada. O projeto não foi adiante.

¿ Com o mapeamento, os vereadores e o Executivo terão um farto material para tentar superar problemas que são gravíssimos para o Rio ¿ diz o vereador Eliomar Coelho (PSOL), que articulou a parceria com o Ippur em 2003, quando era presidente da Comissão de Assuntos Urbanos da Câmara (hoje ele é vice-presidente).

Ippur: conflitos ajudam a conhecer problemas do Rio

Professor e diretor do Ippur, Carlos B. Vainer afirma que a idéia do instituto e da Câmara é ampliar o projeto, criando um observatório permanente de conflitos sociais urbanos:

¿ Os conflitos são fundamentais. Eles são uma maneira de dizer quais são os problemas da cidade. Uma cidade sem conflitos é uma cidade morta.

O mapeamento, que aborda também conflitos relacionados, por exemplo, às áreas de educação, saúde, moradia e remoção de favelas, saneamento, lixo, poluição sonora e visual, levou um ano e meio para ser concluído. O resultado será apresentado quarta-feira, a partir das 10h, no salão nobre da Câmara de Vereadores.