Título: Senador acusado de cobrar mensalinho deixa o P-SOL
Autor: Hugo Marques e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 27/10/2005, País, p. A2
Acuado e sob intensa pressão desde a denúncia publicada pelo Jornal do Brasil, na última semana, de que recolhe 40% dos salários de servidores lotados em seu gabinete no Senado, o senador Geraldo Mesquita Júnior (AC), anunciou ontem a sua desfiliação do P-SOL. Em carta encaminhada à senadora Heloísa Helena (AL), presidente do partido, Geraldinho, como é conhecido, disse que a decisão teve o propósito ¿único e exclusivo de preservar¿ a legenda. Em seguida, em discurso em plenário, o senador classificou a atitude como ¿doída e solitária¿.
¿ Estou tomando essa decisão pessoal para não constranger o partido diante das denúncias publicadas pela imprensa. A situação do meu partido está acima de qualquer situação pessoal ¿ afirmou.
Presente no plenário durante o discurso de Geraldinho, Heloísa Helena, aparentando desolação, chorou a perda de metade da bancada do Senado do partido recém-concebido para abrigar a dissidência do PT. Minutos antes, em entrevista, disse que o afastamento era o melhor caminho.
¿ Ficou difícil para o P-SOL ¿ lamentou.
A decisão de desfiliação de Geraldo Mesquita foi anunciada horas depois de o corregedor do Senado, Romeu Tuma (PFL-SP), pedir abertura de sindicância para investigá-lo no caso da cobrança do mensalinho. As primeiras diligências, inclusive, já foram definidas pelo corregedor. Tuma disse ontem que enviará um delegado ao Acre, estado de Geraldinho, a fim de colher depoimentos de pessoas envolvidas no esquema.
O mensalinho de Geraldo Mesquita foi confirmado em três conversas telefônicas entre a chefe do escritório do senador no município de Sena Madureira, a assistente parlamentar Maria das Dores Siqueira da Silva ¿ conhecida como Dóris ¿ e o ex-assistente parlamentar Paulo dos Santos Freire. Em janeiro do ano passado, Geraldinho contratou o rapaz que ganhava em torno de R$ 1 mil mensais líquidos, na condição de entregar todo mês R$ 410,00 ao senador. Em média, Paulo diz que ficava só com R$ 600.
Em conversa com o ex-funcionário, Dóris afirma que continua até hoje tendo confiscos mensais em seu salário, com os quais quita as despesas do escritório. Depois que Paulo foi demitido do gabinete, Dóris teve pequeno aumento de salário mas continuou pagando as despesas mensais como telefone, água, luz e aluguel, mais de R$ 1 mil mensais, que representam 40% de seu salário líquido.
Na semana passada o Conselho de Ética já havia recebido pedido de investigação contra o então senador do P-SOL de autoria da senadora Heloísa Helena (AL). Ao anunciar a decisão de solicitar investigação do colega de partido, a senadora, conhecido pelo estilo combativo, prometeu expulsá-lo do partido caso as acusações fossem comprovadas. O JB entregou à senadora Heloísa Helena as fitas na sexta-feira. A parlamentar esclareceu que elas só não haviam sido anexadas no processo porque esteve no Rio segunda-feira e não houve tempo para isso.
Formado em Direito, Mesquita foi eleito em 2002 pelo PSB com 104.993 votos. Em março filiou-se ao P-SOL e tornou-se um dos críticos mais ferrenhos da gestão petista. Na última semana, ao rebater as denúncias, Geraldinho disse estar sendo vítima de armação do governo do seu estado, o Acre.
A situação do senador começou a ficar complicada no partido em abril quando o JB revelou a existência de nove parentes lotados no gabinete dele. Na ocasião, o senador pediu desculpas e demitiu 12 servidores, entre parentes e indicados, que engordavam sua renda em R$ 20 mil mensais. Mas foram as acusações dos servidores de que cobraria 40% de seus vencimentos que selaram seu destino no P-SOL.
Em função da gravidade das denúncias, a direção do partido avaliou que não restaria outra alternativa senão o pedido individual de afastamento. O partido também teria recebido informações de que outros funcionários do gabinete do senador estariam dispostos a confirmar o esquema, o que tornou a situação insustentável.