Título: Lula tenta abafar crise no Senado
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Fonte: Jornal do Brasil, 27/10/2005, País, p. A7

Preocupado com a dimensão que a crise política vem tomando no Senado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou ontem o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), para uma reunião às pressas. Um dia depois da renúncia de Eduardo Azeredo (PSDB-MG) à presidência do partido por denúncias de caixa dois, o presidente da República tentou acalmar os ânimos.

Além de Azeredo, Lula estava preocupado com a votação da Medida Provisória 255. Calheiros presidiu a sessão que aprovou a medida, incorporando os principais pontos da chamada MP do Bem, para desonerar a produção e incentivar a exportação.

A MP do Bem precisava ser aprovada no Senado para que ainda haja chance de aprovação na Câmara antes da extinção do prazo de validade, na próxima segunda-feira.

Outro assunto do Senado que preocupa do Palácio do Planalto é o requerimento feito pelo líder do PSDB, Arthur Virgíio (AM), para criar a CPI do Caixa 2. Segundo Virgílio, o requerimento teve 30 assinaturas, três além do necessário.

O PSDB, no entanto, ainda não apresentou o requerimento à Mesa do Senado. Haverá controvérsias para a criação desta que seria a quarta CPI sobre corrupção a funcionar simultaneamente.

O texto do requerimento é considerado anti-regimental por políticos da base governista. A investigação do financimanto de todas as campanhas eleitorais entre 1998 e 2004, segundo governistas, não constitui fato determinado.

A decisão sobre aceitar ou não a criação dessa nova CPI estará nas mãos de Calheiros. Ontem, ele anunciou que se receber o texto, criará a CPI..

O secretário nacional de comunicação do PT, Humberto Costa, disse em Recife (PE) que a proposta tucana de criação de uma CPI para investigar o uso de caixa dois nas campanhas eleitorais é uma ''atitude revanchista'':

- Só vai aumentar o descrédito de toda atividade política no Brasil. Vai sangrar pesadamente em todas as campanhas, em todos os partidos, até porque ninguém vai fazer uma CPI que investigue caixa dois em apenas um partido.

Para Costa, se efetivada a idéia, a apuração terá de incluir também as candidaturas presidenciais de 2002.

- Se for aprovada, o PT vai participar da CPI - garantiu.

Sobre a renúncia de Azeredo da presidência do PSDB, acusado de também estar envolvido no esquema de Marcos Valério, Costa classificou o episódio como ''resultado de um processo que perdeu completamente a racionalidade''.

O ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, não condenou o caixa dois e defendeu ''correções no sistema''.

- Se esse sistema está apontando para um vício, é preciso corrigí-lo para que as pessoas possam trabalhar na vida pública com tranqüilidade. Tão importante quanto punir, é mudar o sistema que levou ao crime - disse.

O presidente do PT de Minas Gerais, o ex-ministro Nilmário Miranda, usou o caso de Azeredo para defender ''isonomia'' em relação aos deputados ameaçados de cassação que alegam uso de caixa dois em campanha eleitoral. A tese de Nilmário é: ou Azeredo é incluído no processo de cassação ou os parlamentares ameaçados são absolvidos. Ele defende a segunda opção.

- Se eu fosse deputado, eu não votaria pela cassação do João Magno (PT-MG) e do Roberto Brant (PFL-MG), por exemplo. Poderia haver outro tipo de punição. Cassação para uso de caixa dois vai virar poço sem fundo - disse.