Título: Ação certa na hora errada
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 27/10/2005, Opinião, p. A10

O senador Eduardo Azeredo agiu certo ao deixar a presidência do PSDB. Mas agiu tarde. Poderia ter renunciado ao posto segundo a própria vontade. Ele o fez, no entanto, por imposição das denúncias que abalaram sua credibilidade - o maior capital de qualquer político. Tisnado pela denúncia de que as contas de Marcos Valério abasteceram financeiramente sua campanha à reeleição ao governo de Minas, em 1998, Azeredo teve condições de antecipar-se a um desgaste inevitável. Hesitantes, ele e os demais tucanos que o sustentaram optaram por estender a batalha contra os ataques adversários. Azeredo pagou o preço do erro e do desgaste. Se as denúncias de caixa 2 vão se confirmar, isso ficará para o processo político. Terá o agravante, contudo, de trilhar um ambiente turvado pelo acirramento eleitoral entre PSDB e PT. O primeiro vê nas acusações a ação de petistas. O outro tenta convencer a opinião pública de que o episódio põe ambos em situação semelhante.

O alto volume do confronto explica as duras declarações de tucanos. ''Quem apedrejou o senador deveria estar pedindo neste momento o impeachment do Lula'', afirmou Tasso Jereissati. ''Não permitirei que usem o meu nome para encobrir a corrupção do governo'', sentenciou Azeredo. A rudeza das declarações justifica-se pelo abalo à credibilidade tanto do ex-governador mineiro quanto do partido. (Azeredo, ressalte-se, sempre teve sua imagem sublinhada pela limpidez; pela seriedade e pelo preparo, soube conduzir o estado que governou a trilhas notáveis.)

O Brasil tem assistido a uma incrível resistência dos políticos a renunciar ao poder. Basta lembrar o ex-ministro José Dirceu: maculado pela sombra de Waldomiro Diniz, não fez o óbvio: afastar-se da Casa Civil. Ficou e ainda agiu com empáfia. Amplificou a crise do governo até o limite da resistência. Hoje se dedica a protagonizar cenas humilhantes em que tenta defender-se das acusações. Justas ou não, ele, assim como Azeredo, perdeu a chance de agir na hora certa.