Título: Desemprego fora de época
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 27/10/2005, Economia & Negócios, p. A18

O desemprego cresceu justamente no momento em que deveria recuar com a proximidade do Natal. A taxa passou de 9,4% em agosto para 9,6% em setembro, a primeira alta em seis meses.

- A pergunta não deve ser por que o desemprego cresceu e sim por que não reagiu quando o mercado de trabalho costuma melhorar - destaca Cimar Pereira, coordenador da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O instituto mostra que a ocupação cresceu entre agosto e setembro, mas não o suficiente para absorver o time que passou a procurar trabalho diante das expectativas de final de ano. Foram gerados, entre agosto e setembro, 175 mil empregos. No mesmo período do ano passado, 200 mil postos de trabalho foram criados. Em 2003, em plena recessão, 230 mil vagas surgiram por causa das festas natalinas.

Depois de três meses de estagnação, mais de 75 mil pessoas engrossaram a lista dos desempregados. Nem a escolaridade parece fazer diferença para estimular o empregador. Um milhão de desempregados têm no mínimo 11 anos de estudo, tempo suficiente para o ingresso na universidade. As chances de conseguir um lugar ao sol crescem de acordo com os anos de escola, mas o salário não se move a partir do diploma.

- A escolaridade livra o indivíduo do subemprego, do desespero, mas os salários não têm mudado muito a partir do nível superior - analisa Pereira, com base em levantamento que preparou recentemente. Os trabalhadores que estudaram por mais de 11 anos conseguiram aumento real de apenas 1,7% em ano, o mesmo percentual de quem não tem nenhuma instrução.

Para quem ficou entre oito e dez anos na escola, a renda subiu 4,4%. O maior ganho foi registrado entre os que sequer terminaram o ensino primário: 4,7% para escolaridade de um a três anos.

O economista Márcio Camargo, da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-RJ), é mais otimista com relação à eficácia da qualificação de pessoal.

- Para cada ano de estudo, temos um adicional de 12% no salário. E a chance de ficar desempregado é muito menor entre os que estudam mais - defende. De fato, a diferença salarial entre os universitários (com ou sem diploma) e os cidadãos sem instrução é grande.

O salário médio do brasileiro foi de R$ 974 em setembro. Depois de três meses de crescimento, o rendimento do trabalhador apresentou estabilidade em setembro, na comparação com agosto (R$ 974,90 frente a R$ R$ 974,96). Foi observada alta no rendimento médio real habitual dos trabalhadores das atividades de comércio, reparação de veículos automotores, domésticos e comércio a varejo de combustíveis (2%); dos profissionais da educação, saúde, serviços sociais, administração pública, defesa e seguridade social (0,6%); dos empregados domésticos (1,9%) e de outros serviços (1,3%). Houve queda no rendimento médio real habitual na indústria extrativa, de transformação e distribuição de eletricidade, gás e água (-2,7%) e construção (-2,5%).

No emprego, contudo, o balde de água fria partiu de todos os lados. Da indústria aos serviços, os patrões evitaram contratações. O último dado de comércio do IBGE mostra queda nas vendas em agosto, depois de taxas mornas de crescimento nos meses anteriores. Nas fábricas, as vendas estacionaram em julho, com corte de 2,5% na produção, que voltou a crescer em agosto.

Com o ligeiro aumento, o desemprego retomou o patamar de dezembro do ano passado. Numa escalada de janeiro a março, a taxa ficou em 10,8%, estacionou em abril e recuou nos meses seguintes para 9,4% em junho. E até agosto não se mexeu; só em setembro.

''A variação de 0,2 ponto percentual em relação a agosto não foi significativa, o que contribuiu para um quadro de estabilidade no mercado de trabalho'', assinala o IBGE na Pesquisa Mensal de Emprego divulgada ontem.

Mas em Recife e Porto Alegre as taxas subiram expressivamente. Na capital nordestina, o desemprego passou de 13,4% para 15% da PEA, enquanto em Porto Alegre subiu de 7,6% para 8,4%. ''Nas demais regiões, o quadro foi de estabilidade'', completa o IBGE.