Título: Renan Calheiros avisa que instalará CPI do Caixa Dois
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 29/10/2005, País, p. A4

Comissão vai investigar dinheiro não declarado em campanhas de 1998 a 2004

CAMPO GRANDE E SÃO PAULO - O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), decidiu instalar, na próxima semana, a CPI do Caixa Dois, que irá investigar o uso de dinheiro não declarado nas campanhas eleitorais de 1998 a 2004. No contra-ataque, o PT sugeriu, ontem, a cassação do mandato do ex-presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo, que admitiu o uso de caixa dois na campanha para governador de Minas Gerais em 1998. - Recebi o requerimento de instalação da CPI, mandei fazer a conferência das assinaturas e na próxima semana farei a leitura para instalarmos a CPI - disse Renan Calheiros, em Campo Grande (MS).

A idéia desta CPI foi do senador Arthur Vírgílio (PSDB-AM), líder tucano no Senado, em uma tentativa de demonstrar que o caso de Azeredo foi isolado. Virgílio entregou na quinta-feira o requerimento pedindo a criação da CPI.

O presidente do Senado justificou que se não desse encaminhamento ao pedido de CPI protocolado pelo PSDB, estaria adotando uma posição diferente de quando foram solicitadas as outras três comissões em funcionamento no Congresso.

O PT também usou o argumento da igualdade para justificar o pedido de cassação do ex-presidente do PSDB. Na verdade, a nova estratégia do partido para defender-se das denúncias do mensalão será o ataque ao PSDB.

-Há provas materiais, incluindo cheques, da relação de Azeredo com o empresário Marcos Valério - disse o terceiro vice-presidente do PT, Jilmar Tatto, que participou ontem de reunião da Executiva Nacional do partido.

Renan Calheiros garantiu que é possível compatibilizar o funcionamento do Congresso com mais um investigação. Já estão em curso outras três CPIs: dos Correios, do Mensalão e dos Bingos.

O presidente do Senado disse não acreditar que as investigações da CPI do Caixa Dois atinja o PMDB. Ele lembrou que um deputado do partido, José Borba (PMDB-PR), acusado de envolvimento no esquema do mensalão, já renunciou para evitar o processo de cassação na Câmara.

- Tivemos um caso em que o deputado já renunciou. Não acredito que encontrem outras irregularidades no PMDB - apontou.

O argumento dos tucanos para a criação da CPI é a lista entregue pelo empresário Marcos Valério à CPI dos Correios, com indicações de que repassou recursos não contabilizados. Eles apontam também a confissão do publicitário Duda Mendonça de que foi pago pelos serviços prestados na campanha do PT em 2002 por recursos depositados em conta no exterior e não declarados.

Os senadores contrários à criação da CPI dizem que não há um fato determinado que possa ser objeto de investigação. Calheiros afirmou a competência de avaliar é da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).