Título: Cubano nas reuniões do PT
Autor: Hugo Marques e Silmara Cossolino
Fonte: Jornal do Brasil, 30/10/2005, País, p. A2

CAMPOS DE JORDÃO, SP - O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) se recorda da presença constante do diplomata Sérgio Cervantes - suposto intermediário da remessa do dinheiro - nas reuniões do PT.

- Sei da ligação institucional porque Cervantes era representante do PC cubano. Se havia outra ligação, desconheço. Ele participou de várias reuniões, até do diretório nacional - declarou o senador que foi surpreendido com a possibilidade de a campanha eleitoral do presidente Lula ter sido financiada por US$ 3 milhões vindos de Cuba.

Suplicy estava em Campos de Jordão, durante a segunda edição do DNA Brasil, cujo tema era Somos ou estamos corruptos?

- Estou tomando conhecimento do fato, se verdade for, agora. Mas, obviamente, há necessidade de se fazer apuração completa dos fatos. É algo importante, grave, porque a legislação brasileira é muito clara quanto à proibição legal de verba estrangeira em campanhas políticas e nós do PT somos conscientes disso.

A relação de petistas com Cuba vem de longa data. Foi na ilha que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT-SP) se exilou, de 1969 a 1975. Mais de uma vez, o deputado disse ter uma ''dívida de gratidão'' com o país.

Dirceu teve sua liberdade trocada pela do embaixador americano seqüestrado Charles Elbrick.

No ano passado, Dirceu tirou férias em Cuba e foi recepcionado por Cervantes, a quem conheceu nos anos 60. Cervantes serviu como diplomata no Brasil e foi a primeira autoridade a tratar com o governo sobre o reatamento das relações diplomáticas, em 1986. Lula e Cervantes também se conhecem desde o tempo de movimento sindical, no ABC paulista.

Em 2003, quando esteve em Cuba, Lula recebeu críticas por não ter incluído nos discursos a questão dos direitos humanos - o governo de Fidel é acusado de prisões e execuções arbitrárias de dissidentes políticos, artistas e jornalistas. O governo afirmou que o tema foi tratado reservadamente com o cubano. Na Comissão de Direitos Humanos da ONU, a gestão Lula não tem apoiado resoluções que condenem Cuba por violações.