Título: Dinheiro de Fidel atiça a oposição
Autor: Hugo Marques e Silmara Cossolino
Fonte: Jornal do Brasil, 30/10/2005, País, p. A2

Denúncia de revista sobre ajuda de US$ 3 milhões para a campanha do PT em 2002 leva líderes a anunciar nova investigação

BRASÍLIA - A suposta remessa de US$ 3 milhões de Cuba para a campanha do PT em 2002 publicada na edição de ontem da revista Veja levou a oposição a anunciar que vai investigar o que seria um caixa 2 internacional para ajudar a eleição de Lula. Os líderes deverão entrar com requerimentos nas CPIs e com representações no Ministério Público e no Tribunal Superior Eleitoral. O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), achou a denúncia ''gravíssima'', por ter testemunhas. Ele quer chamar na CPI dos Bingos o advogado Rogério Buratti, ex-assessor da Prefeitura de Ribeirão Preto na gestão do atual ministro Antonio Palocci, e o economista Vladimir Poleto, que teria ajudado a transportar o dinheiro.

- Acho que já temos um mar de lama que mostra a face do governo. Vamos tomar as medidas legais que nosso departamento jurídico indicar - diz Bornhausen.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), lembra que não é a primeira vez que o PT é acusado de envolvimento com operações no exterior. Já houve denúncia de supostos US$ 5 milhões recebidos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Depois surgiu a conta que o publicitário Duda Mendonça abriu nas Bahamas para receber dinheiro do empresário Marcos Valério.

A campanha para a eleição de presidente Lula recebeu ou US$ 3 milhões ou US$ 1,4 milhão - há uma dúvida quanto à quantia exata - em doações clandestinas provenientes de Cuba, segundo a Veja. A remessa é proibida pela legislação e pode motivar a cassação do registro do PT.

A apuração foi baseada em testemunhos de dois personagens: o advogado Rogério Buratti e o economista Vladimir Poleto. Os dois trabalharam para o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, quando prefeito de Ribeirão Preto, e dizem ter ouvido a história de um amigo em comum que morreu de câncer em junho de 2004: Ralf Barquete, que também trabalhou para o então prefeito Palocci.

Os dólares teriam sido acondicionados em duas caixas de uísque e uma de rum. De lá, teriam sido transportados por Ralf Barquete para o então tesoureiro petista Delúbio Soares, no comitê de Lula, na Vila Mariana (Zona Sul de São Paulo). Delúbio e o ministro Palocci ouvidos pela revista, negaram o relato.

Não se sabe como o dinheiro teria chegado a Brasília. Porém, segundo Veja, dólares ficaram sob os cuidados do cubano Sérgio Cervantes, que já serviu como diplomata de seu país em Brasília e no Rio de Janeiro. Ele seria amigo de José Dirceu.