Título: Lula quer vice do PMDB em 2006
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 30/10/2005, País, p. A2

Governador Jarbas Vasconcellos é sondado

BRASÍLIA - Ancorado em pesquisas encomendadas pelo Palácio do Planalto, que apontam um cenário alvissareiro para 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu deixar de lado a efervescência da crise política para começar a pavimentar o seu caminho rumo à reeleição. Desde a última semana, o governo atua em duas frentes no sentido de fortalecer o nome do presidente para o embate eleitoral do próximo ano. Opera para consolidar uma ampla aliança de centro-esquerda (PT-PSB-PCdoB-PMR) com o PMDB de vice, e trabalha nos bastidores pela manutenção da regra da verticalização, que pode garantir a Lula e ao PT um palanque mais robusto na maioria dos estados do país. Numa outra ponta, o PT, com as bênçãos do Planalto, passou a recrudescer os ataques ao PSDB nos programa de rádio e TV. O sinal verde foi dado por Lula que julga os números de seu governo nas áreas econômica e social mais expressivos do que os das duas gestões do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB.

Na última quarta-feira, o ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner, sondou o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB), sobre a possibilidade de ele sair como candidato a vice de Lula. Embora vincule a sua decisão às prévias do partido no próximo ano e à situação regional, Jarbas deixou as portas abertas para um entendimento.

A sondagem de Wagner ao governador de Pernambuco foi uma demonstração de que, apesar da intenção do PMDB de lançar candidato próprio à Presidência em 2006, o governo não jogou a toalha na intenção de tê-lo como aliado preferencial nas eleições do ano que vem. E o nome de Jarbas cairia como uma luva, na avaliação do Planalto, pelo fato de pertencer à ala histórica do partido, cultivar reputação de honesto, ter uma avaliação positiva de 65% em seu estado, e conseguir agregar um caminhão de votos na região Nordeste. Outro que é sempre lembrado para a vaga de vice de Lula é o presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL). Mas Renan, argumentam auxiliares de Lula, encontraria ainda mais dificuldades em unir o historicamente fragmentado PMDB, além de carecer de densidade eleitoral se comparado a Jarbas.

Com a possibilidade de o PMDB vir a ocupar a vaga de vice na chapa da reeleição e uma perspectiva de aliança com PSB, PMR, PCdoB, nada mais conveniente ao PT e ao governo que a manutenção da regra da verticalização das alianças segundo a qual as composições nos estados devem reproduzir as estabelecidas no plano nacional. Em estados como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, principais colégios eleitorais do país, se o PT não conseguisse o apoio de PMDB e PSB, o que é mais provável, os forçaria a sair sozinhos. Em contrapartida, em boa parte dos estados, o palanque do PT estaria assegurado.

Lula resolveu desencadear a ofensiva política, incluindo a estratégia de intensificar os ataques ao PSDB, depois de compartilhar com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, levantamentos que indicariam que a sociedade se exauriu das CPIs e que, a despeito da crise, o horizonte apontaria para um cenário promissor. Salvo a acareação do chefe de gabinete Gilberto Carvalho na CPI, durante a semana as preocupações do Planalto estiveram voltadas para o futuro.

As pesquisas de posse do governo revelam que, embora Lula e o PT tenham sofrido desgaste com a crise do mensalão, a maioria da população ainda o consideraria honesto e um governante capaz de desenvolver um bom trabalho na área social e domar eventuais sobressaltos na área econômica. Ainda de acordo com os levantamentos, a crise, apesar de ter atingido o Planalto, estaria concentrada no Congresso e seria atribuída à classe política em geral e não à figura do presidente.