Título: Referendo anima políticos conservadores
Autor: Juliana Rocha e Paulo Celso Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 30/10/2005, País, p. A8

A vitória do Não no referendo sobre a proibição da venda de armas e munições animou os políticos mais conservadores do país. Nas eleições de 2006, partidos de direita defenderão a redução da maioridade penal, a pena de morte e a legalização do aborto para controle da natalidade. Cientistas políticos admitem que este discurso será atraente para eleitores assustados com a insegurança e decepcionados com a corrupção no governo Lula. - O voto no Não não foi apenas de eleitores conservadores, mas os políticos conservadores poderão se aproveitar dele. Até porque a demagogia da repressão sempre cola em uma situação de crise. Os partidos de direita têm motivo para estarem animados - dispara o cientista político da Unicamp, Armando Boito.

A coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec) da Universidade Cândido Mendes, Sílvia Ramos, aponta que a decepção com as políticas de segurança e, principalmente, com o PT e com o governo Lula levaram a população a votar Não.

- Foi um Não contra tudo, contra o governo e a corrupção. Há um sentimento de decepção no PT que pode levar a um retrocesso. Me preocupo com o que vai acontecer, por exemplo, com o estatuto do desarmamento - destaca.

Outra pesquisadora do Cesec, Bárbara Soares, é mais enfática quanto ao risco de conservadorismo eleitoral.

- A gente corre o risco de, a partir de agora, abrir portas para um processo de conservadorismo, de retrocesso em termos de conquistas democráticas, que já foram consolidadas - aponta.

Símbolo da extrema direita no Brasil, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) já sonha com a candidatura ao governo do Estado do Rio, com um programa que inclui a radicalização da polícia e o corte de verbas para ONGs e entidades de Direitos Humanos, que ''só defendem os bandidos''.

Ele defende que sejam feitos novos plebiscitos, como a redução da maioridade penal para 16 anos, a pena de morte e o controle da natalidade através do aborto.

- Eu sempre falei destas questões e agora que o Não venceu o referendo, vem uma centena de deputados louvando estas políticas - diz.

O deputado federal Chico Alencar (P-Sol-RJ) admite que o voto no Não deve estimular os partidos mais conservadores a sonhar em conquistar mais eleitores em 2006.

- O voto no Não anima a onda conservadora, até porque estas idéias de combate à violência são sedutoras - diz.

E dispara que o presidente Lula ajudou a produzir o desencanto pela esquerda e a direita.

- Em 2002, as idéias conservadoras sofreram um baque com a eleição de Lula e agora estão voltando - disparou Chico Alencar, que deixou o PT após as denúncias de que o partido comprava votos de deputados. (J.R.)