Título: O polêmico acordo nuclear
Autor: Sheila Machado e Rozane Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 30/10/2005, Internacional, p. A10

Apesar de verem, no Brasil e na Argentina, o compromisso de atuarem como um moderador de conflitos na América do Sul, os Estados Unidos encaram com desconfiança o projeto da Venezuela de adquirir tecnologia nuclear. Washington sustenta que Hugo Chávez está se armando, e que este seria mais um passo militar do país. Caracas defende que almeja a tecnologia para fins pacíficos e energéticos. Dentre todos, este promete ser o tema mais polêmico da 4º Cúpula das Américas.

- Há uma parceria entre Argentina, Brasil e Venezuela. Os argentinos estão prontos para vender um reator nuclear, os brasileiros venderiam urânio enriquecido - afirma o professor de Relações Internacionais da UnB, Argemiro Procópio.

Segundo o analista argentino Carlos Pereyra Mele, Washington vai tentar, em Mar del Plata, impedir que Chávez obtenha a tecnologia de ponta, ''venha de onde venha''. No entanto, o espaço de manobra é pouco, sustenta Juan Tokatlián:

- Brasil e Argentina são bastante transparentes, renunciaram às armas nucleares, seguem os acordos internacionais. Buenos Aires, por exemplo, vendeu recentemente reatores à Austrália e Turquia. O argumento mais forte que têm é que, com a Venezuela não seria diferente, ela teria que se comportar como qualquer comprador.

Mesmo assim, Washington pergunta: por que um país tão rico em petróleo quer aumentar sua capacidade energética?

- O fato é que Chávez quer transformar a Venezuela em um pólo energético na América do Sul. Já tem óleo cru e leve, gás natural, indústria de carbono, linha petroquímica. Só falta a tecnologia nuclear. E, com o preço do petróleo nas alturas, tem dinheiro o suficiente para comprá-la - diz o analista argentino.

E, para provar que não tem intenções militares, pelo menos por ora, deu preferência de compra a Brasil e Argentina.

- Chávez poderia, por exemplo, comprar do Paquistão, Índia, Rússia e China, países que também estão no mercado e que usam a tecnologia com fins bélicos - ressalta Tokatlián.

- O Brasil nunca se envolveria no negócio se a finalidade não fosse pacífica, para não perder credibilidade na comunidade internacional - lembra Marcelo Coutinho.

A posição oficial, no entanto, é de não confirmar o acordo nuclear:

- O que há é uma idéia vaga de cooperação, uma intenção - disse a fonte do governo.