Título: Gripe aviária, o contrapeso da balança
Autor: Guillermo Parra-Bernal
Fonte: Jornal do Brasil, 30/10/2005, Economia & Negócios, p. A30
Surto deverá compensar queda no saldo comercial provocada por aftosa
Os prejuízos que a febre aftosa já provocam na balança comercial brasileira poderão ser compensados em conseqüência de uma outra doença que vitima animais. Como maior exportador mundial de frango, o Brasil será o principal beneficiado em termos de participação de mercado após alguns países criadores terem sido afetados pela epidemia de gripe aviária, informou o ING Groep NV em relatório.
Os riscos de a cepa do vírus H5N1, que causa a gripe aviária, chegar ao Brasil são limitados, pois a maioria das espécies de aves associadas à transmissão da doença não transita pelo Brasil, segundo David Spegel, analista do ING.
- O timing e os padrões migratórios sugerem que, provavelmente, o Brasil seria um dos últimos a sofrer com a infecção, e isso permitirá que os avicultores abocanhem o excedente de demanda por aves vivas e por seus ovos e carne que os países infectados não conseguem atender - sustenta Spegel.
A União Brasileira de Avicultura prevê que o valor exportado crescerá 32%, para US$ 3,5 bilhões, ou 3 milhões de toneladas este ano, superando o total do ano passado, de US$ 2,65 bilhões ou 2,5 milhões de toneladas. O ING prevê que a alta será inferior apenas à registrada pelas exportações americanas do produto. Os EUA são o maior produtor mundial de frango.
A Sadia, a maior processadora de alimentos do Brasil, e suas concorrentes estão ampliando as exportações e aumentando a capacidade produtiva. O objetivo é aproveitar a redução da oferta a partir das proibições à importação de aves originárias dos países afetados pela epidemia, como Colômbia, Croácia, Romênia e Turquia. Venezuela, Peru, Equador, Panamá e Bolívia proibiram a importação de frango originário da Colômbia em 12 de outubro passado, após o registro de uma epidemia do vírus.
Além disso, a União Européia (UE) proibiu as importações dos países do Leste Europeu, e o Kuwait vetou a entrada de frango e derivados congelados vindos da Rússia, da Mongólia e do Cazaquistão.
Segundo Spegel, o Brasil demonstrou capacidade para abocanhar participação de mercado de outros concorrentes durante epidemias de gripe aviária ocorridas nos últimos três anos.
Desde 2003, a Arábia Saudita vem aumentando a importação de frango do Brasil, reduzindo as compras da China. O Japão elevou as importações de frango brasileiro em 76% no mesmo período.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), porém, teme que a gripe aviária avance pelo mundo, caso o vírus sofra uma mutação e comece a ser transmitido de pessoa a pessoa. Mais de 60 pessoas já morreram da doença no Sudeste Asiático, e acredita-se que a maioria tenha contraído a doença após contato com aves migratórias. Neste caso, a América do Norte poderia enfrentar um surto da doença até meados do ano que vem, enquanto Argentina, Brasil e Chile podem registrar casos só a partir do início de 2007, prevê Spegel.
Na semana passada, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, afirmou que o Brasil monitorará todos os visitantes e destruirá os alimentos provenientes da Colômbia e de outros países afetados pela gripe aviária. Segundo ele, a cepa do vírus encontrada na Colômbia não tem relação com a gripe aviária asiática.