Título: Conta milionária do mensalão não fecha
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 28/10/2005, País, p. A2

A CPI do Mensalão realizou ontem mais um campeonato de versões inverossímeis, ao colocar frente a frente os operadores do esquema. Os principais eram Marcos Valério, sua ex-diretora financeira Simone Vasconcelos, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o ex-deputado Valdemar Costa Neto. Entre diversas versões contraditórias, o ex-deputado Valdemar Costa Neto ¿ que renunciou ao mandato pelo PL de São Paulo ¿ foi um dos que mais deixaram dúvidas nas cabeças dos parlamentares. Ele não soube explicar onde foram parar R$ 4,3 milhões dos R$ 10,8 milhões que Valério diz ter entregue a ele. As contradições de Valdemar ficaram claras para o senador Amir Lando. Há uma discrepância entre os depoimentos de Valdemar com o que diz Valério, sua funcionária Simone Vasconcellos e o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares. O presidente da CPI, senador Amir Lando, acredita que Valdemar tenha mentido não somente pela versão contraditória frente aos outros operadores do mensalão.

¿ Não é por ser três a um. É porque nós temos uma discrepância grande entre o que circulou na Guaranhuns com aquilo que o PL diz ter recebido ¿ diz Lando. A Guaranhuns é a empresa laranja que ninguém quer assumir a propriedade. Era por meio desta empresa que Valério depositava o dinheiro para o ex-deputado. A ex-mulher de Valdemar, Maria Christina Mendes Caldeira ¿ vestida com uma blusa onde escreveu a palavra `chega¿ com paetês ¿ garantiu que a Guaranhuns é do próprio marido. Ela ouviu a acareação bordando outro `chega¿ em um pano que dará de presente ao presidente Lula. Segundo ela, a empresa foi criada para os negócios que Valdemar tinha com o empresário Hélio Borenstein e foi usada para receber o dinheiro do PL.

¿ O Valdemar está mentindo. Acredito muito mais no Marcos Valério ¿ afirmou Maria Chistina.

A ex-mulher de Valdemar apresentou os endereços onde, segundo ela, o ex-marido gastou o dinheiro que recebia. Ela explicou que o ex-deputado gastou US$ 500 mil em um cassino de Punta del Este, na Páscoa do ano passado. Maria Christina lembra ainda de outros US$ 100 mil que o marido movimentou em um cassino de Las Vegas.

As contradições entre os números do mensalão chamaram a atenção dos parlamentares. Delúbio afirmou ter ¿autorizado¿ Valério a repassar R$ 12 milhões dos empréstimos para o PL de Valdemar. Valério garantiu ter repassado R$ 10,8 milhões para o então presidente do PL. Mas Valdemar disse ter recebido R$ 6,5 milhões. O ex-tesoureiro do PL, Jacinto Lamas, também foi acareado, mas não ajudou a encontrar o rastro dos R$ 4,3 milhões.

¿ Alguém surrupiou R$ 4 milhões. E o Lamas sabe de tudo ¿ disse Maria Christina. Lamas também entrou em contradições. Ele disse que esteve ¿uma ou duas vezes com dona Simone¿, da SMP&B, mas que não sabia quanto recebia em cada pacote de dinheiro. Depois admitiu ter tido muitos encontros com a então gerente de Valério. Simone clareou a memória de Lamas e lembrou até das ¿sacolinhas¿ que ele levava as notas de R$ 100 para pesar menos.

Lamas afirmou que não tinha recebido dinheiro de Valério, mas logo admitiu ter pego um envelope das mãos do dono da SMP&B e garantiu que os recursos foram para Valdemar.