Título: Acareação reacende impeachment
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 28/10/2005, País, p. A3

Num dia dedicado a acareações entre pagadores e receptores de dinheiro do suposto esquema montado pelo PT e por Marcos Valério Fernandes de Souza, a CPI do Mensalão virou palco para a oposição voltar a cobrar impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por suposto uso de caixa dois em sua campanha. Ficaram frente-a-frente o presidente do PL, Valdemar Costa Neto (SP) ¿ que renunciou ao mandato de deputado federal para não ser cassado por conta do envolvimento com o esquema de Marcos Valério ¿, o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares, o dono da agência de publicidade SMPB Marcos Valério e sua diretora financeira Simone Vasconcelos.

Valdemar reafirmou que utilizou os recursos repassados pelo publicitário, com autorização do ex-tesoureiro petista, para pagamento de despesas de campanha no segundo turno da eleição de Lula, em 2002.

¿ Eram materiais para a campanha do presidente Lula e do vice-presidente, José Alencar, no segundo turno ¿ disse Costa Neto.

Delúbio Soares rebateu:

¿ Fizemos um acordo com o PL que tomou a iniciativa de fazer algumas despesas e depois apresentou a conta. Apresentou o buraco do PL e tivemos de cobrir ¿ afirmou.

O PL fazia parte da coligação do então candidato Lula, que tinha como vice José Alencar, então filiado ao partido.

O deputado oposicionista Moroni Torgan (PFL-CE) sugeriu o encaminhamento de uma representação contra o presidente, reacendendo o debate sobre o impeachment.

¿ Se um deputado recebe recursos não-contabilizados para sua campanha, mesmo que alegue que não sabia, é encaminhado para o Conselho de Ética. Então, por que tem de ser diferente com o presidente da República? ¿ questionou.

A sugestão foi endossada pela deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP). ¿ São fatos muito graves que devem ser profundamente investigados. Temos de pedir o impeachment de Lula ¿ disse a jornalistas.

À tarde, o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), anunciou que entraria com uma queixa-crime contra Lula no Ministério Público Federal por crime eleitoral. Paralelamente, o PSDB protocolava requerimento para instalação de uma CPI no Senado para investigar a prática de caixa dois nas campanhas.

Pouco antes do fim da acareação, que durou aproximadamente cinco horas, o presidente do PL procurou amenizar sua declaração que envolveu Lula. Afirmou que ele mesmo decidiu, sem consultar ninguém, investir mais na campanha presidencial de Lula no segundo turno. A oposição não levou em conta esse senão do ex-parlamentar.

Durante a acareação, Valdemar afirmou que recebeu R$ 6,5 milhões do esquema Marcos Valério. O valor, no entanto, diverge de uma lista encaminhada pelo dono de agências de publicidade à CPI, na qual aponta que foram R$ 10,837 milhões repassados para o presidente do PL. O valor total para o PL somou, segundo Marcos Valério e Delúbio Soares, R$ 12 milhões, uma vez que também receberam recursos o ex-deputado Carlos Rodrigues (RJ) e o ex-chefe de gabinete do ex-ministro dos Transportes Anderson Adauto (MG).

O publicitário deu alguns detalhes. Afirmou que esteve com Valdemar em três ocasiões, uma delas em um hotel em São Paulo, quando lhe entregou pessoalmente o dinheiro. E disse que o ex-tesoureiro do PL Jacinto Lamas lhe indicou a corretora Guaranhuns como a empresa que deveria receber os depósitos provenientes das empresas do publicitário. Com agências