Título: Juro segue alto ao consumidor
Autor: Kelly Oliveira
Fonte: Jornal do Brasil, 28/10/2005, Economia & Negócios, p. A19

A taxa básica de juros (Selic) caiu, mas os seus efeitos ainda não chegaram ao consumidor. As taxas cobradas no cheque especial e em empréstimos ao consumidor, segundo aferiu o Banco Central, seguiram em alta em setembro. A taxa básica de juros passou de 19,75% em agosto para 19,5% em setembro. No entanto, segundo a Nota de Política Monetária do BC, divulgada ontem, a taxa de juros cobrada no comércio, por meio de instituições financeiras, cresceu 6,2 pontos percentuais no mês e chegou a 59,9% ao ano, a maior desde março deste ano (62,4%).

Outra modalidade a apresentar alta foi o cheque especial, taxa de 148,8% ao ano, no maior patamar desde setembro de 2003, quando chegou a 152,2%.

Já as instituições financeiras tiveram lucro maior nas operações de crédito. Isso é observado por meio da diferença entre as taxas de aplicação e de captação das instituições, o chamado spread. No crédito ao consumidor no comércio, as instituições financeiras obtiveram um spread de 41,2 pontos percentuais, um crescimento de 6,4 pontos percentuais em relação a agosto. Com o cheque especial, os bancos obtiveram um spread ainda maior: 130,5 pontos percentuais, um acréscimo de 0,1 ponto percentual em relação ao mês anterior.

No mercado financeiro não faltam fatores que justifiquem a redução dos juros cobrados ao consumidor. Além da taxa de captação estar menor para as instituições (com a queda da Selic), a inadimplência para a pessoa física permanece praticamente estável: passou de 12,9%, em agosto, para 12,7%, em setembro.

Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, a tendência é que as instituições reduzam os juros cobrados ao consumidor a partir deste mês.

¿ Isso está relacionado a ajustes estatísticos das instituições financeiras, e em outubro deveremos ter uma queda mais significativa no spread ¿ afirmou Lopes.

O economista do BC explica que as linhas de crédito oferecidas nas lojas de varejo vinham apresentando redução nas taxas de juros desde março. Nesse período, segundo explica, foi observado um movimento de compra das carteiras de financiamento por bancos, o que manteve as taxas de juros baixas. Entretanto, em setembro, o consumidor financiou menos suas compras, o que levou ao aumento dos juros.

Essa redução foi devido ao endividamento elevado observado em agosto, com as compras do Dia dos Pais. Mas Lopes enfatiza que a temporada de alta acabou, com previsão de reduções nos juros ao consumidor de outubro até o final do ano.

Apesar deste fator observado no varejo, o volume total de operações de crédito para pessoa física chegou a R$ 174,7 bilhões, 1,4% superior ao de agosto. No ano, a alta é de 10,5%. Já o empréstimo para pessoas jurídicas chegou ao volume de R$ 148,6 bilhões, um aumento de 2,3%, em relação a agosto e de 31,2% no ano.