Título: Salário cai e ocupação aumenta no comércio
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Fonte: Jornal do Brasil, 28/10/2005, Economia & Negócios, p. A20
O salário médio pago no comércio caiu, o número de empregos no setor avançou e a produtividade recuou, fruto do baixo crescimento do faturamento das empresas de varejo, atacado e de veículos entre 1996 e 2003. É o que aponta a pesquisa Anual do Comércio, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Nos cinco anos entre 1996 e 2003, o nível de emprego no comércio subiu 29,5%. Eram 6,3 milhões de pessoas ocupadas em 2003. Para o IBGE, o aumento foi provocado pela alta de 29% no número de empresas que passaram a atuar no setor.
- O comércio absorve empregados de outros setores. É um fenômeno mundial. A queda da renda pode estar ligada ao aumento da oferta de trabalho no setor. As empresas conseguiram contratar pessoas para as mesmas funções, porém pagando menos - analisa Ciclian Oliveira, gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE.
É o caso das vendedoras Fabiana Soares e Claudia Nogueira, ambas de 25 anos, que trabalham no Saara, centro popular de compras no Rio. As duas sabem das dificuldades de conseguir um emprego.
- Estou trabalhando numa loja de brinquedos há quatro anos. Antes, trabalhava em shopping e ganhava mais. Fui demitida e não consegui nada melhor. A única solução foi trabalhar ganhando menos - explica Fabiana.
As duas fazem parte de um setor cujos salários são os menores, e em queda. Entre as divisões do comércio, o varejo pagou 2,5 salários mínimos em 2003. Em 1996, era de 4,1 salários mínimos por trabalhador. O varejo era, em 2003, responsável por 85,1% do total de empresas do comércio e 76,4% do emprego. Sua participação no faturamento, porém, era de 43,1%. Nas firmas atacadistas, o salário médio também caiu. Passou de 4,8 mínimos em 1996 para 3,5 em 2003. Mais concentrado, o atacado, com menos empresas (7,1%), empregava só 14,9% da mão-de-obra do comércio em 2003. Era, porém, a divisão que abocanhava a maior fatia do faturamento (46,1%).
A média do número de pessoas ocupadas por empresa manteve-se estável no atacado (dez pessoas) e no varejo (quatro pessoas), mas caiu em veículos - de sete para cinco. Para Oliveira, houve uma perda de ''eficiência do comércio'', que não conseguiu manter seu faturamento por empregado no mesmo nível de 1996. A produtividade do setor teve queda de 16,9% entre 1996 e 2003. A receita do comércio cresceu 7,6%, puxada pelas vendas no atacado, do ramo de combustíveis.