Título: Países com embargo à carne nacional já são 47
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Fonte: Jornal do Brasil, 28/10/2005, Economia & Negócios, p. A23

A lista de países que adotaram restrições comerciais a produtos brasileiros por causa da febre aftosa em Mato Grosso do Sul já soma 47 com a entrada de Angola e Bulgária.

O Ministério da Agricultura já teve a informação do Itamaraty mas, como não recebeu a documentação, não informou as áreas e os produtos afetados com as decisões dos dois países. O ministro Roberto Rodrigues estima que as perdas nas exportações chegam a US$ 1,7 bilhão.

Ontem, o ministério recebeu um representante da Embaixada da Indonésia, país que embargou as compras de farelo de soja do Brasil. O objetivo da visita era explicar que não havia justificativa técnica para a decisão do governo indonésio. A embaixada vai estudar os argumentos brasileiros e poderá sugerir a revisão da medida ao governo de Jacarta.

Relatório do Departamento de Operações na Fronteira (DOF) divulgado ontem pelo governo de Mato Grosso do Sul reforça indícios de que a origem dos focos de febre aftosa no estado é o rebanho paraguaio, mas não apresenta provas da acusação. O documento é resultado de 15 dias de investigações na região de Eldorado e Japorã, onde foram confirmados os focos de aftosa.

Segundo o secretário estadual de Coordenação Geral de Governo, Raufi Marques, ''fica claro que há movimentação muito grande de gado paraguaio na região''. Marques afirma que o trânsito de gado é intenso porque ''há muitas propriedades rurais com parte da área no Brasil e o resto no país vizinho''. De acordo com o relatório, assinado pelo delegado Antônio Carlos Videira, ''investigações feitas em propriedades da região permitem constatar que as marcas do gado avaliado são diferentes da forma brasileira de marcação''.

De acordo com o diretor-presidente da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro), João Crisóstomo Mauad Cavallero, os policiais visitaram propriedades da região, entrevistaram produtores, trabalhadores e avaliaram rebanhos.

- Ficam mais fortes as evidências de que a doença veio de rebanho do Paraguai. O tráfego de bois é um dos indícios. Além disso, temos análise laboratorial que confirma que desde 2000 não há atividade viral de aftosa no estado. Precisamos considerar as coincidências. Em 1999, detectamos um foco em Naviraí, que fica na mesma região de Eldorado e Japorã. Será que o problema é o nosso gado? - disse.

Segundo Marques, em muitos casos a introdução ilegal de animais é feita pelos brasileiros, devido a preços mais baixos dos animais paraguaios.

Por causa do temor de que a febre aftosa atinja São Paulo, a Secretaria da Agricultura e Abastecimento paulista iniciou esta semana o rastreamento dos animais que entraram no estado em outubro. Ontem, decidiu rastrear também os animais que saíram do Paraná em setembro.

O estopim das medidas tomadas pelo governo paulista foi a afirmação, da Secretaria da Agricultura do Paraná, de que 37 bois procedentes de São Paulo tiveram contato com animais de Mato Grosso do Sul suspeitos de contaminação por aftosa na Eurozebu, em Londrina, no começo deste mês.

Segundo o secretário paulista da Agricultura, Antônio Duarte Nogueira Júnior, todas as propriedades estão sendo monitoradas e, na próxima semana, um relatório será produzido para ser encaminhado ao ministério e ao Itamaraty.

O objetivo do documento é que ele seja enviado a Bruxelas e a Paris, para tentar derrubar o embargo da União Européia, que importa 39% da carne exportada pelo Brasil.

- Precisamos derrubar esse embargo que, do ponto de vista sanitário, não se sustenta.

Ontem, em São Paulo, sindicalistas fizeram um churrasco com 15 toneladas de carne para protestar contra o embargo.