Título: Mais um líder sem-terra é morto
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 31/10/2005, País, p. A6

Um dos líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) no agreste de Pernambuco, Antônio José dos Santos, 50 anos, foi assassinado a facadas no fim da noite de sábado em Tacaimbó (a 182 km de Recife). Para o movimento, o crime foi em conseqüência de conflito agrário. É o segundo militante assassinado em 48 horas.

Na quinta-feira à noite, outro líder de uma dissidência do MST, o MLST (Movimento de Libertação dos Sem-Terra), foi morto em circunstâncias ainda não estão esclarecidas.

A direção do MST acredita que o crime contra Santos esteja relacionado à disputa por terra, já que ele vinha sofrendo ameaças de proprietários da região.

Ele integrava o acampamento levantado dentro da fazenda Maiada dos Cavalos, invadida por cerca de 40 famílias.

Segundo as polícias Civil e Militar, Santos, antes de ser assassinado, havia bebido com os irmãos, conhecidos como Geraldo e Maria José em frente à entrada de um sítio.

O corpo do agricultor foi encontrado caído na estrada de terra que passa em frente à propriedade, com perfurações no peito e no abdômen. Ao seu lado, havia uma garrafa de aguardente, uma de refrigerante e um maço de cigarro.

A polícia trata os irmãos como suspeitos. Eles não haviam sido encontrados até o início da noite de ontem. A primeira hipótese oficial é que o assassinato seja conseqüência de algum desentendimento.

Do outro lado, a suspeita de crime agrário é reforçada pelo MST, já que na sexta-feira o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) obteve na Justiça a imissão de posse de parte da propriedade para a criação de um projeto de assentamento. Nenhum funcionário do instituto em Pernambuco foi localizado ontem.

Na sexta-feira, a Polícia Civil abriu inquérito para investigar a morte do coordenador do MLST Hanilton Martins da Silva, 34, assassinado um dia antes em Itaíba (a 330 km de Recife). Ele foi morto a tiros por dois homens que estavam numa motocicleta, após parar seu carro num posto de gasolina. Silva retornava de uma reunião com lideranças de uma cooperativa de trabalhadores rurais da região.

Dirigentes do MLST sustentam que a morte também está ligada à questão agrária. A polícia apura essa possibilidade e investiga também uma possível vingança.

No dia 10 de outubro, Silva procurou o Ministério Público estadual para denunciar um suposto clima de insegurança no município - motivado, segundo ele, pela atuação de pistoleiros e pela pouca presença de policiais. O lavrador solicitou o envio de uma força-tarefa para tentar garantir segurança na cidade.