Título: ONU mantém presidente no cargo
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Fonte: Jornal do Brasil, 31/10/2005, Internacional, p. A9

O presidente da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo, cujo mandato de cinco anos estava previsto para terminar ontem, manteve-se no poder, depois que as eleições foram adiadas e a ONU decidiu deixá-lo no cargo até 2006, devido à instabilidade do país. A permanência causou a ira de opositores, que saíram às ruas da capital Abidjan (Sul) para protestar, entrando em confronto com a polícia.

A polícia usou bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo para dispersar centenas de manifestantes que pediam a saída do presidente. As mulheres, com os rostos pintados de branco, dançavam em roda enquanto os homens gritavam palavras de ódio contra Gbagbo.

A tropa de choque atirou para o ar quando a multidão tentou invadir a residência presidencial, no Centro da cidade, e fez barricadas de madeira para tentar impedir o acesso. Não há registros de mortos ou feridos.

Os líderes da oposição pediram calma, mas não conseguiram controlar os manifestantes. Protestos também aconteceram no Norte, região tomada por rebeldes em 2002, iniciando uma guerra civil.

Os aliados de Gbagbo, conhecidos como Jovens Patriotas, chegaram a adiar um comício que fariam em Abidjan, temendo o confronto com grupos rivais.

Mais de 10 mil tropas francesas e multinacionais vigiam a fronteira que separa o grupo de oposição Forças Novas (FN) das milícias que apóiam o governo. Gbagbo diz ser necessário que os rebeldes se desarmem antes das eleições. A guerra civil e a conseqüente divisão do país são motivos para o adiamento do pleito. Em março de 2004, mais de 120 opositores foram mortos pelas forças armadas, segundo um relatório da ONU.

No último dia 13, o Conselho de Segurança adotou uma resolução que prevê que Gbagbo continue em seu posto e nomeie um primeiro-ministro aceito por todas as partes.

O pleito, que estava convocado para ontem, foi adiado para outubro do ano que vem por Gbagbo, que alegou que os rebeldes ainda não se desmobilizaram como as milícias leais ao presidente

O porta-voz das FN, Sidiki Konate, afirmou que o grupo ''rejeita plenamente'' a resolução 1.633 e que não desarmará seus membros ''enquanto Gbagbo continuar ocupando a presidência''.