Título: Aumenta a pressão na Casa Branca
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 31/10/2005, Internacional, p. A10

A confiança do presidente americano, George Bush, em sua equipe caiu devido ao escândalo 'Plame', informou a revista Time, citando uma fonte da Casa Branca. Republicanos e democratas falam agora em mudanças na equipe de governo. A oposição quer a renúncia do estrategista político Karl Rove.

Segundo a revista, Bush ficou mais desacreditado em seus assessores, Rove e Andrew Card, assim como no próprio vice-presidente, Dick Cheney, que teve seu ex-chefe de gabinete, Lewis Libby, indiciado na sexta-feira. É acusado de mentir e tentar impedir a investigação sobre a revelação do nome de Valerie Plame.

- O problema é que o presidente não quer fazer muitas mudanças na sua equipe - disse a fonte anônima à Time.

A revista qualificou os últimos sete dias de ''semana infernal'' para o governo, que enfrentou duros golpes políticos envolvendo sua equipe. Além de Libby, a Casa Branca perdeu também sua indicação para a Suprema Corte. Harriet Miers renunciou à candidatura alegando que a investigação de seu trabalho enquanto conselheira jurídica do presidente - processo normal antes de sua confirmação no cargo - não seria do interesse de Washington, por revelar comentários e conselhos feitos por ela a Bush.

Segundo a Time, a única assessora que ainda tem a confiança do presidente é a secretária de Estado, Condoleezza Rice.

- Todas as relações do presidente se abalaram, exceto com sua esposa, Laura - afirmou o funcionário da Casa Branca.

Já o líder democrata no Senado, Harry Reid, pediu que o presidente dê explicações sinceras à sociedade americana sobre o papel de seu governo no vazamento da identidade da agente secreta:

- Acho que Karl Rove deveria se demitir. Ele é um homem que o presidente disse que se estivesse envolvido, se qualquer um estivesse, sairia.

O assessor de Bush não foi processado pelo caso Plame, apesar de ainda estar sendo investigado pelo promotor independente Patrick Fitzgerald. No entanto, o repórter da Time, Matthew Cooper, que testemunhou ao Grande Júri, afirmou que soube da identidade de Valerie pelo assessor de Bush.

Para o democrata Christopher Dodd, a questão vai além da participação de Rove no caso:

- Apesar de não haver evidências de que Karl Rove pode ser processado, o presidente tem de determinar se ele deve ou não se preocupar com assuntos legais envolvendo a Casa Branca.

A promotoria investiga se a revelação do nome da agente foi uma vingança contra seu marido, o embaixador Joesph Wilson, que se opôs publicamente à guerra do Iraque.

- Não há desculpas para os americanos para esse problema óbvio da Casa Branca - atacou Reid.

Já o senador republicano John Cornyn tentou simplificar a crise no indiciamento de Libby:

- Os erros alegados estão confinados a uma só pessoa.

O republicano Trent Lott, por sua vez, pediu que o presidente faça mudanças em sua equipe, mas não falou na saída de Rove. Na sua opinião, o próprio assessor deve dizer se é um problema para a administração.

- Devemos estar sempre procurando por novo sangue, nova energia. E não estou falando em uma mudança geral, mas você precisa estender a mão - ponderou.

A renovação do governo também foi comentada por Charles Schumer, presidente do Comitê Democrata de Campanha ao Senado:

- A acusação da semana passada mostra uma Casa Branca que perdeu força, seja em assuntos éticos ou relacionadas ao Katrina, ao Iraque ou ao aumento do preço da gasolina. A verdadeira questão para o presidente é: ele será como Richard Nixon, não admitindo erros, ou como Ronald Reagan, que assumiu falhas, fez algumas correções e levou novas pessoas para a Casa Branca, dos dois partidos, acima de qualquer aproximação ética ? - indagou.

O presidente Bush, no entanto, parece ver pouca necessidade de uma limpeza geral e tentará recomeçar seu segundo mandato indicando um novo nome à Suprema Corte, assim como intensificando seu esforço para reduzir os gastos do governo, afirmam funcionários da Casa Branca e analistas.

A estratégia é tranqüilizar a base conservadora, dividida e desacreditada, conseguir vitórias no Congresso e preparar o terreno para um retorno fortalecido no próximo ano.

Segundo assessores e conselheiros, a esperança é de que Bush seja capaz de restabelecer sua imagem de líder forte, mostrando que tem planos para tratar de questões como altos custos de energia e imigração ilegal, além de reafirmar que permanecer no Iraque é essencial para defender a nação da ameaça do Islã radical.