Título: Lula afasta Planalto, mas manda PT reagir
Autor: Daniel Pereira e Marcos Seabra
Fonte: Jornal do Brasil, 01/11/2005, País, p. A2

A fim de evitar a precipitação da campanha eleitoral, o Palácio do Planalto vai esperar apenas baixar a poeira levantada pelos ataques mútuos entre PSDB e PT nos úl timos dias para voltar a procurar os principais caciques tucanos de olho numa trégua política. A denúncia de repasse de verbas de Cuba para a campanha Presidencial de 2002 adiou a intenção do Planalto.

Ontem, os líderes do governo e do PT subiram à tribuna para a pronta resposta às alfinetadas da oposição. Em tom de ironia, Arlindo Chinaglia (PT-SP) lembrou que o PT já foi acusado até de receber dinheiro das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Mas nada foi provado.

- Só falta a oposição dizer agora que o PT recebeu dinheiro do Bin Laden. Se a oposição vai por aí, o governo não vai. O enfrentamento político-eleitoral faremos no momento apropriado. Se a oposição escolhe esse caminho é um abuso, uma forçação de barra tremenda - afirmou.

Foi consenso, no entanto, que o PT não poderia assistir impassível aos ataques. Durante encontro que durou cerca de duas horas e contou com a participação de Palocci, Jaques Wagner, Thomaz Bastos, Dilma Rousseff (Casa Civil), o vice-presidente José Alencar e o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), a estratégia de defesa foi acertada.

A decisão foi tomada ontem no rastro da denúncia da revista Veja de que a campanha de Lula teria recebido clandestinamente ou US$ 1,4 milhão ou US$ 3 milhões de Cuba, o que aumentou a temperatura dos ataques da oposição ao Planalto. A princípio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deverá se envolver diretamente na tentativa de armistício entre governo e oposição, a não ser fazendo menção ao assunto em discursos e inaugurações. Mas não está descartada a participação de Palocci e Marcio Thomaz Bastos, que já exerceram o papel de mediadores do consenso em situações semelhantes. Palocci tem bom trânsito com o prefeito de São Paulo, José Serra, e Thomaz Bastos, com setores do PFL.

Na avaliação de ministros do núcleo político do governo, como Márcio Thomaz Bastos, da Justiça, Antonio Palocci, da Fazenda, e Jaques Wagner, da Coordenação Política, não seria conveniente a ninguém - nem ao PT nem ao PSDB - a instalação de um clima beligerante a um ano da sucessão presidencial.

O recrudescimento dos ataques pode ter efeito avassalador para os dois lados da trincheira, argumentam, uma vez que governo e oposição armazenariam munição capaz de desgastar um ao outro. Ontem, inclusive, setores de PSDB e PFL sob a influência do empresariado teriam manifestado preocupação com o acirramento da contenda política em conversas com o ministro Jaques Wagner, a quem caberá propor a retomada do diálogo.

- Seria um haraquiri duplo. Cada um tem sua bomba atômica, mas o país não pode sair perdendo. O desgoverno não interessa a ninguém - afirmou um auxiliar do presidente.

Para evitar a presença do Planalto no palco no confronto, foi definido que caberá ao PT, e não ao governo, responder à denúncia sobre o suposto repasse. Durante a reunião de ontem, os governistas acertaram que o assunto deve se restringir ao Congresso.

- A denúncia é inconsistente, não apresenta provas. Não é assunto do governo - teria dito Lula, segundo interlocutores.