Título: PSDB e PFL traçam plano para faturar com denúncia
Autor: Daniel Pereira e Marcos Seabra
Fonte: Jornal do Brasil, 01/11/2005, País, p. A2

Passado o fim de semana, diminuiu a disposição dos líderes nacionais de PSDB e PFL para pedir o impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e criar uma comissão parlamentar de inquérito para investigar caixa dois em campanhas eleitorais realizadas entre 1998 e 2004. A mudança de tom ficou patente depois de reunião entre os presidentes do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), e do PSDB, o prefeito de São Paulo, José Serra. Depois do encontro, os dois defenderam, no entanto, investigação imediata de denúncia de que a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva recebeu US$ 1,4 milhão ou US$ 3 milhões de Cuba, o que é proibido pela legislação eleitoral. O caso será analisado pela CPI dos Bingos, como destacou ontem o presidente da comissão, senador Efraim Morais (PFL-PB).

¿ Considero uma denúncia gravíssima ¿ disse Bornhausen.

Ontem, o líder da minoria no Senado, José Jorge (PFL-PE), apresentaria requerimento convocando Rogério Buratti e Éder Soares Macedo para depoimentos na CPI dos Bingos. A idéia é aprová-los na terça-feira da semana que vem, junto com o requerimento de convocação de Vladimir Poleto, já apresentado. Os três foram citados pela revista Veja como testemunhas do esquema que teria injetado dólares oriundos de Cuba na campanha de 2002. Buratti, por exemplo, disse à revista ter sido consultado por Ralf Barquete (ex-auxiliar de Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto) sobre como trazer US$ 3 milhões de dólares de Cuba para o Brasil. Barquete, já falecido, teria feito o contato a pedido do hoje titular da Fazenda.

¿ Palocci trabalhou como tesoureiro informal da campanha do presidente, o que é uma novidade. Se a denúncia for verdadeira, só há um castigo previsto na legislação, que é a cassação do registro do partido ¿ declarou Jorge.

Segundo o líder da minoria, a votação do requerimento de convocação de Palocci será feita após os depoimentos de Buratti, Macedo e Poleto. Trata-se de uma cautela recomendada pelo líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).

¿ Estamos na antevéspera do limite em relação ao ministro Palocci. De novo, há pessoas da confiança dele envolvidas em denúncias ¿ disse Virgílio.

É a segunda vez que o nome do homem forte da equipe econômica volta ao centro das investigações. Na primeira vez, a oposição cogitou convocar Palocci depois de Buratti denunciar o suposta propinas de R$ 50 mil à Prefeitura de Ribeirão Preto pela Leão Leão, que fazia coleta de lixo ao município.

Na ocasião, o líder do PT no Senado, Delcídio Amaral (MS), disse que o ministro da Fazenda ameaçou renunciar ao cargo caso fosse convocado a depor, o que poderia melindrar o mercado. A advertência, somada à vontade de blindar a economia, sensibilizou a oposição.

¿ Os indícios estão se acumulando ¿ afirmou Jorge para justificar a mudança de conduta.

Se for aprovada pela CPI dos Bingos, na qual a base governista é minoria, a convocação de Palocci será uma espécie de divisor de águas no embate entre governo e oposição com vistas às eleições presidenciais de 2006. No auge da crise política, o plano do PSDB, referendado pelo PFL, era manter Lula no cargo e blindar Palocci até o final de 2006. Convicta de que venceria a corrida ao Planalto no ano que vem, a oposição queria assumir o comando do país em um ambiente de estabilidade política e econômica.

A recuperação da popularidade do presidente Lula e do governo nas pesquisas, ou pelo menos o fim da trajetória descendente, levou PSDB e PFL a rever a estratégia e partir para o ataque mais contundente.

¿ Se o propósito agora é desestabilizar o governo, o caminho está certo ¿ disse o senador Tião Viana (PT-AC). Para ele, a iniciativa não é inteligente porque pode ter impacto negativo no mercado e provocar respostas à altura por parte do PT.