Título: Izar tenta falar com Jobim
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 01/11/2005, País, p. A3

O presidente do Conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), também se mostrou desconfortável com as decisões do STF. Afirmou que não vai permitir que os trabalhos do conselho sejam julgados como algo ''mal-feito, apenas com uma visão política''. Ainda pela manhã, ligou pelo menos três vezes para o presidente do STF, Nelson Jobim, mas não conseguiu ser atendido. Era uma tentativa de negociar, com o presidente do Supremo, uma menor intervenção do tribunal em relação aos trabalhos do Conselho de Ética. Izar também está disposto a entregar a Jobim notas técnicas de como o órgão tem conduzido seus trabalhos. Caso o STF julgue improcedente o recurso da defesa de Dirceu, o relatório do processo de cassação será votado na próxima sexta-feira. A principal garantia dada a Izar veio do próprio presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB - SP), que trabalha para manter, hoje e quinta-feira, o quorum mínimo de 51 deputados, necessário para contar as duas sessões ordinárias suficientes ao pedido de vistas da deputada Ângela Guadagnin (PT-SP), ao relatório.

Visivelmente insatisfeito com o fato de ter sido obrigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a reformular e reapresentar seu relatório e voto no processo que corre contra o deputado José Dirceu (PT-SP) no Conselho de Ética da Câmara, Júlio Delgado (PSB-MG) voltou ontem a recomendar a cassação do mandato do ex-ministro da Casa Civil.

O relatório anterior de Delgado foi anulado pelo STF por ter incluído dados sigilosos obtidos pelas CPIs instaladas no Congresso. A decisão foi dada, na quinta-feira passada, pelo ministro Eros Grau.

Delgado suprimiu essas passagens de seu novo relatório. Porém, não deixou de protestar pelo que denominou ''sistemático controle do Poder Judiciário'', que ''deixa em desalento a sociedade brasileira''.

Em seu voto, Delgado sustentou que Dirceu não poderia ter abandonado as responsabilidades parlamentares ao assumir cargo no Executivo.

- (Dirceu) Jamais deixou de ser deputado federal. Ao assumir o ônus de ministro de Estado, jamais poderia abandonar a conduta, a postura imposta pelo regimento interno da Câmara dos Deputados, devendo obrigatoriamente atentar para a questão da dignidade e da honra a qual todo homem está sujeito, principalmente o homem público - diz o documento.

O relator também voltou a afirmar ser improvável que Dirceu, com todo seu poder no governo federal, não tenha ao menos tido conhecimento do esquema de repasse de recursos do PT a partidos e deputados da base governista. (Renata Moura e Fernando Exman)