Título: Interferência do STF irrita deputados
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 01/11/2005, País, p. A3

O desmesurado esforço do deputado José Dirceu, na frente jurídica, para escapar da cassação, está originando uma nova guerra. Desta vez não é a luta sem quartel entre petistas de um lado, tucanos e pefelistas de outro, de olho na sucessão de 2006, mas sim um ataque frontal ao Supremo Tribunal Federal, que, com suas decisões, está atrasando a conclusão dos trabalhos do Conselho de Ética e dando sobrevida inesperada ao ex-chefe da Casa Civil. O estopim foi o anúncio do advogado de Dirceu de que tentaria anular a sessão de ontem à tarde do conselho, caso o deputado não tivesse o direito de ¿ampla defesa¿. O relator do processo de cassação, Júlio Delgado (PSB-MG) iniciou o bombardeio, classificando como ¿interferências indevidas do Judiciário no Legislativo¿ as decisões em que o ministro Eros Grau, por duas vezes, favoreceu Dirceu. Edmar Moreira (PFL-MG) acusou o ministro de parcialidade, por ter atendido ¿em 58 minutos ¿ pedido anterior do advogado do deputado. Jairo Carneiro (PFL-BA) chegou a pedir modificações na Constituição para evitar a interferência do Judiciário em ¿decisôes colegiadas desta Casa¿. O Presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-MG) também mostrou irritação e desde cedo anunciou que iria procurar o presidente do Supremo, Nelson Jobim, para aparar as arestas. ¿Vamos tentar evitar novos recursos¿, afirmou, mas até a noite de ontem não havia conseguido o encontro almejado. O Conselho de Ética aprovou a prorrogação por 45 dias dos prazos de tramitação contra Dirceu, Sandro Mabel (PL-GO) e Romeu Queiroz (PTB-MG). Segundo Izar, a medida é para evitar manobras jurídicas que prejudiquem a análise dos processos. Assim como Izar, Júlio Delgado estava contrariado por ter sido obrigado pelo STF a reformular e reapresentar seu relatório. Voltou a recomendar a cassação de José Dirceu, ¿o grande arquiteto deste espetáculo de corrupção¿. O STF, alvo dos ataques, já recebeu, na atual legislatura, 56 pedidos de mandados de segurança vindos da Câmara contra decisões de diversas instâncias da Casa. ¿É um sintoma de que as forças políticas e partidárias não estão conseguindo impor um código de conduta minimamente aceito¿, opinou um ministro.