Título: Mar del Plata pronta para guerra
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Fonte: Jornal do Brasil, 01/11/2005, Internacional, p. A8
A cidade-sede da 4ª Cúpula das Américas está desde ontem transformada em um campo de guerra para garantir a proteção dos 34 chefes de estado convidados para o evento. O esquema de segurança mobilizou mais de 10 mil homens e dois navios de guerra americanos, e foi demarcada a chamada zona de exclusão, de cerca de 250 quarteirões na área onde as conferências já estão sendo realizadas. A má notícia foi para os moradores e aqueles que trabalham na região. O plano previsto de só liberar a entrada de quem tem credenciais não deu certo ontem, primeiro dia do encontro, e o tumulto causou longos engarrafamentos, além de buzinaço em protesto pela desorganização.
O esquema planejado já começou a dar errado na estimativa feita pelas autoridades locais. A população que precisaria de credenciais foi calculada em 50 mil, com 8 mil veículos. Mas, nas últimas semanas, mais pessoas apareceram, e o total chegou a 60 mil, com 10 mil veículos.
Ainda no domingo à noite, havia enormes filas na porta da delegacia da Polícia Federal destinada à distribuição das credenciais. Essas filas também eram prova de outra falha no programa de segurança: a idéia inicial é que os documentos fossem enviados para as casas dos moradores e trabalhadores cadastrados, o que também não funcionou.
Outro problema registrado foi o aparecimento de credenciais com números diferentes dos originais que os policiais tinham, e muitos ficaram barrados nos acessos. Por conta do desencontro de informações, outros tantos que tinham o documento também acabaram retidos até o erro ser detectado.
Qualquer cidadão pode sair da zona de exclusão sem credenciais, exigidas apenas de quem entra. Em compensação, são apenas três os pontos de entrada e saída para pedestres, o que significa que é preciso andar por vários quarteirões para poder passar. Para carros, são nove as passagens. A previsão é que todos os veículos que entrarem na zona de exclusão sejam vistoriados por peritos em explosivos. Face ao número de reclamações ontem, as autoridades locais prometeram, pelo menos, aumentar o número de pontos de circulação.
Além do fortíssimo esquema terrestre de segurança, Mar del Plata já está vigiada por mar e pelo ar. Fazem parte do plano de vigilância dois navios de guerra de última geração que vieram dos EUA especialmente para cuidar da proteção ao presidente americano George Bush, como é de praxe em eventos desse porte em cidades próximas do oceano. Os dois têm baterias anti-aéreas, e pelo menos um deles, o USS Ross, tem mísseis SM2 capazes de acertar um alvo a 370 quilômetros.
Fundeados a 30 milhas náuticas da terra, as embarcações estão em águas internacionais, o que lhes livra da jurisdição local, embora estejam programados para trabalhar em conjunto com outros quatro navios argentinos. A principal missão da frota é controlar o espaço aéreo, que está sob esquema especial de supervisão desde ontem.
Até as 15h da próxima segunda-feira, quando a cúpula já terá sido encerrada, qualquer aeronave civil só poderá aterrissar se obtiver autorização 45 minutos antes. A partir de quinta-feira, será estabelecido um raio de segurança sobre a cidade, no qual nenhum avião poderá penetrar até as 15h de sábado. Já está aprovado que, durante os dias do encontro, o governo argentino poderá abater qualquer avião que entre no espaço aéreo sem autorização, e está proibida a navegação na costa de Mar de del Plata entre os dias 3 e 5 de novembro, quando os chefes de estado estarão na cidade.
Só para Bush serão mais de 400 agentes americanos. Dois aviões militares já pousaram em Mar del Plata, com equipamentos - incluindo armas - comida e até a água que será consumida pela comitiva do presidente. O grupo vai lotar um hotel cinco estrelas no centro da cidade. Detalhe: todos os funcionários locais do estabelecimento foram substituídos por pessoal vindo de Washington, credenciado pelo serviço secreto.