Título: Empresários: governo gasta mal
Autor: Silmara Cossolino
Fonte: Jornal do Brasil, 01/11/2005, Economia & Negócios, p. A17

No setor produtivo, a marca atingida pelo governo foi recebida com ressalvas. A principal delas é sobre a qualidade dos gastos do governo, para muitos excessivos e pouco voltados ao investimento.

- Um superávit de boa qualidade deve ser comemorado. Mas aparentemente, de toda a economia que se fez, boa parte se deve à redução dos investimentos - avalia o presidente do Conselho Empresarial de Política Econômica da Firjan, Carlos Mariani Bittencourt. - Economia feita a partir de uma melhor administração é muito saudável, mas não via corte de investimentos, como aparentemente está sendo feito.

Segundo Bittencourt, é preciso dividir melhor as despesas do governo para investimentos, gastos sociais e gastos correntes

- O número em si não é o problema, mas sim, se o governo, ao gastar, o faz de maneira positiva ou negativa - avalia o empresário do setor petroquímico.

Para o economista da Federação do Comércio do Estado do Rio (Fecomércio-RJ), João Carlos Gomes, o governo é um mau gestor de seus recursos.

- O superávit primário avança para cobrir os gastos públicos excessivos - opina.

Gomes lembra que as despesas do governo com custeio subiram de o equivalente a 25% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas produzidas no país) para 35% nos últimos 10 anos.

- Com os gastos nas alturas, o governo tem que pagar caro para se financiar, reduzindo o volume de recursos disponíveis para investimentos - afirma, referindo-se às despesas para o pagamento de juros. - O governo tem que pagar para manter a solvência da dívida e, portanto, faz um superávit alto. Mas é preciso olhar os números por dentro. Esse descontrole vem provocando crescimento da carga tributária e uma taxa de juros real de 13% ao ano.

O economista do Fecomércio lembra, ainda, além do corte de recursos que poderiam ser canalizados ao investimento, os projetos em curso que não saem do papel.

- O projeto piloto do FMI tem R$ 2,9 bilhões e menos de 10% foi empenhado até agora. Já está muito em cima para que deslanche no fim do ano. Não entendo o que ocorre - avalia Gomes.

Já o diretor do departamento de Comércio Exterior do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Humberto Barbato, disse não ver o lado positivo de o país cumprir a meta de superávit primário três meses antes do necessário.

- Esse excesso de economia promove um grande atraso no país. O Brasil cria sim uma boa imagem, de que cumpre bem o dever de casa, e beneficia o setor financeiro, enquanto a indústria é prejudicada, os investimentos em infra-estrutura são adiados e não há geração de emprego - afirma Barbato.

Ele também lembrou que, apesar do superávit primário, o país ainda registra déficit nominal refletindo o efeito perverso da atual política monetária que mantém a taxa básica de juros elevada.

- O grande problema é que estamos arrecadando, mas não estamos sabendo gastar - conclui.