Título: Mesquita vai devolver ''contribuição militante''
Autor: Hugo Marques e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 02/11/2005, País, p. A2

O senador Geraldo Mesquita Júnior (sem partido-AC) promete devolver os R$ 5 mil descontados ilegalmente do salário de seu ex-assistente parlamentar Paulo dos Santos Freire. O senador pediu afastamento do P-SOL e ficou sem partido depois que o Jornal do Brasil divulgou três gravações nas quais Paulo pede a devolução de 40% do salário que tinha de repassar mensalmente ao escritório do senador, o chamado mensalinho. Nas conversas com Paulo, a atual chefe do escritório do senador no município de Sena Madureira, Maria das Dores Siqueira da Silva, a `Dóris¿, reclamava que até hoje paga as despesas com parte do salário. Nos bastidores do Senado, Mesquita tenta escapar de processo no Conselho de Ética, que poderá cassá-lo por quebra de decoro. O senador diz que está ¿disposto a assumir a responsabilidade¿ pela cobrança ilegal, devolvendo ao rapaz aquilo que ele diz que foi indevidamente retirado do seu salário¿.

A parcela descontada no salário de servidor lotado no gabinete, jura o senador, ocorria exclusivamente no município de Sena Madureira. Ele diz ter sete ¿escritoriozinhos¿ parlamentares no Acre. Mas na mesma entrevista, o senador revela que outros servidores dão a tal ¿contribuição¿.

¿ A grande maioria dos meus servidores se sente responsável pela condução das atividades que a gente desenvolve nos estados ¿ garante o senador.

Segundo o senador, os servidores contribuem de forma ¿consentida¿. Se o ex-servidor Paulo dos Santos Freire acha que não contribuiu de forma ¿prazerosa¿, diz Mesquita, o dinheiro será integralmente devolvido.

Pela primeira vez o parlamentar explicou onde seu escritório em Sena Madureira gastou a parcela descontada do salário de Paulo, dinheiro que o rapaz reclama ter sido obrigado a entregar todo mês para não perder o emprego. Ele ganhava R$ 1,1 mil e diz ter sido obrigado a repassar R$ 410 todo mês para o escritório do senador.

Segundo Mesquita, o dinheiro foi utilizado para comprar camisas de times de futebol, comida para os encontros de representantes de organizações sociais e transporte de militantes. Muitas vezes, diz o senador, o gabinete não tem como recolher nota fiscal ou recibo das despesas.

Entre as despesas impossíveis de comprovar junto ao Senado, diz Mesquita, estão os pagamentos aos ¿toioteiros¿, os donos de veículos Toyota, que cobram entre R$ 200 e R$ 300 por manhã transportando pessoas, e ¿não têm como dar recibos¿.

¿ As despesas normais, de luz, água e aluguel, sempre tiveram provimento. O Paulo jamais contribuiu para essas despesas. Foram despesas extras de escritório, da atividade mesmo ¿ diz Mesquita.

Ele afirma que foi de Dóris a iniciativa de contratar Paulo pelo sistema de ¿participação solidária¿, ¿naquilo que excedia as despesas normais de um escritório¿. O senador afirma ter ouvido dela as explicações sobre os R$ 1 mil que ela continuaria entregando para pagar despesas do escritório de Sena Madureira. Segundo Mesquita, Dóris falou dessa forma para que o assessor Paulo ¿não sentisse que aquilo acontecia só com ele¿.

¿ Eu pediria, inclusive, se a gente tivesse meios para isso, que ela fosse submetida ao detector de mentiras. A Dóris jamais me repassou quantia nenhuma. Isso é uma invenção dela ¿ garante Mesquita.

Um dos argumentos que a funcionária Dóris apresentou ao senador para contratar o rapaz pelo sistema de ¿contribuição militante¿, segundo ele, foi o alto valor do salário para o município de Sena Madureira. A contratação de Paulo, diz o senador, não era muito necessária, mas Dóris insistiu.

¿ Eu tinha conhecimento. Agora, a condução era dela. Ela tinha autonomia no município ¿ afirma o senador.