Título: Valério depõe em reunião reservada
Autor: Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 02/11/2005, País, p. A3

O presidente da CPI do Mensalão, senador Amir Lando (PMDB-RO), disse que a comissão vai investigar outras possíveis fontes de recursos ilegais à políticos do governo, além dos R$ 55 milhões em empréstimos declarados por Marcos Valério Fernandes de Souza. Ontem, Valério foi ouvido mais uma vez em reunião reservada com Amir Lando, o relator da comissão, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PFL-MG), e os senadores Rodolpho Tourinho (PFL-BA) e Romeu Tuma (PFL-SP).

Segundo Lando, a CPI já identificou recursos para o caixa 2 do PT, nas eleições de 2002 e nas municipais de 2004, um esquema semanal de pagamentos ao PL nos dois primeiros anos do governo Lula e o pagamento a dirigentes de PP, PTB e PMDB. Mas o presidente da CPI suspeita que há mais a revelar:

-Já temos elementos para bater a contabilidade do esquema com a movimentação bancária. Os empréstimos existiram, foram distribuídos conforme a narrativa de Valério e Delúbio, embora haja discrepâncias, mas não é certo dizer que tenham sido a única fonte.

A conta do mensalão, no entanto, não é capaz de explicar, por exemplo, os R$ 4 milhões que o ex-presidente do PTB, Roberto Jefferson, disse ter recebido da direção do PT, concluiu o senador. Após a reunião, o senador Rodolpho Tourinho defendeu que a investigações devem ser ampliadas.

- Os R$ 55 milhões são uma realidade, comprovada, mas temos de investigar outras fontes - disse.

A ampliação das investigações levará a CPI a examinar empresas estatais que tinham dirigentes indicados pelo PTB (Eletronorte, Furnas, IRB) e também contratos dos Correios e da área de comunicação do governo. Valério voltou a negar o repasse de R$ 4 milhões ao ex-presidente do PTB. Ele reafirmou que pessoas do PT indicadas por Delúbio receberam cerca de R$ 30 milhões, outros R$ 12 milhões para o PL, mais R$ 12 milhões para o PP e cerca de R$ 1,8 milhão ao ex-tesoureiro do PTB, Emerson Palimieri.

Levantamento feito pela assessoria da CPI indica que o PL teria recebido recursos do chamado valerioduto regularmente, entre fevereiro de 2003 e agosto de 2004, em quantias que variaram de 100 mil a 500 mil reais por semana.

A CPI rastreou dezenas de transferências feitas pelo ex-tesoureiro do PL Jacinto Lamas e também a partir da empresa Guaranhuns, no total de 12 milhões de reais. O presidente do PL, ex-deputado Valdemar Costa Neto, nega ter recebido dinheiro dessa empresa, que movimentou cerca de 4 milhões de reais do esquema, mas Marcos Valério voltou a sustentar a informação.

Com agências