Título: Violência em estação de trem
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 02/11/2005, Internacional, p. A7

O governo argentino acusou ontem manifestantes anti-cúpula e sindicalistas de se infiltrarem em um protesto de passageiros de trens nos subúrbios de Buenos Aires, que se queixavam de atrasos, e provocar violentos incidentes horas antes da chegada de chefes de Estado ao país.

- Foi uma sabotagem, um incidente planejado... Nenhum morador em nenhum lugar do mundo coloca fogo em uma estação ou em um trem - disse o ministro do Interior Aníbal Fernández, em entrevista coletiva.

Fernández disse ter detectado membros de sindicatos e de organizações radicais entre os manifestantes, portando coquetéis Molotov.

A violência, que deixou 87 pessoas detidas e 12 feridos, começou quando um suposto grupo de passageiros, indignado com a demora do serviço de trens no qual viajavam, incendiou 15 vagões de duas composições na estação Haedo, a Oeste da capital.

Mas logo a multidão, na qual era possível distinguir manifestantes com rostos cobertos, entrou em confronto com a polícia, incendiando o terminal e um veículo das forças de segurança e apedrejando policiais, que em determinado momento retrocederam. Destruiu, ainda, vários estabelecimentos comerciais, como dois bancos.

O serviço ferroviário foi suspenso logo que começaram os distúrbios. O tumulto se estendeu para as ruas vizinhas, que se transformaram em um campo de batalha. Só depois de várias horas as forças de segurança conseguiram controlar a situação.

Segundo o ministro, 17 pessoas ficaram feridas e 87 foram detidas. Um manifestante preso portava uma arma e vestia uma jaqueta da policia de Buenos Aires, roubados de um agente no começo da confusão.

Fernandéz acusou os dirigentes do grupo de esquerda ''Quebracho'' pelos incidentes. A organização emitiu um comunicado qualificando o episódio de ''justo e necessário''.

- Respeitamos os moradores de Haedo, que podem ter sua raiva legítima, mas não os relacionamos com esses ato de vandalismo, preparado e pensado para produzir tumulto - disse o ministro, negando que o serviço de trens tenha causado a ira dos passageiros.

Apesar das denúncias de Fernández, as autoridades do distrito consideraram os distúrbios espontâneos, desvinculando-os dos protestos contra o encontro de líderes americanos que acontece em Mar del Plata:

- O protesto se deve à saturação das pessoas por causa de um péssimo serviço ferroviário - disse Juan Carlos Martínez, subsecretário de Segurança e Defesa Civil de Morón, onde ocorreram os incidentes.

Segundo uma testemunha, haviam passageiros pendurados nas janelas do trem:

- Quando chegou à estação de Haedo, o serviço foi cancelado. As pessoas, ensandecidas, começaram a golpear o trem... Um grupo começou a atirar pedras. Outro começou a botar fogo.