Título: A sombra de Saddam
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 02/11/2005, Internacional, p. A8
A resolução da ONU também colocou em uma difícil posição os demais países do Oriente Médio, temerosos de que o futuro seja o mesmo do Iraque. Embora a falta de reações oficiais reforce a idéia de isolamento, o certo é que a imprensa oficial vizinha, com exceção da libanesa, bate na mesma tecla:
''Um vazio de poder na Síria é um cenário muito perigoso para toda a região'', afirmava o jornal oficial Jordan Times , advertindo os EUA de que suas ameaças a Damasco podem ser ''contraproducentes'' e criar mais problemas.
''Uma vez encurralado, o regime sírio perderá seu espaço vital para manobrar, cooperar de forma efetiva com a ONU, manter a estabilidade, lutar contra o terrorismo e introduzir reformas'', avaliou a publicação. ''Não é o momento para isolar o regime e causar um vazio no qual o extremismo pode encontrar o lugar adequado para crescer e prosperar, levando o resto da região à instabilidade'', acrescenta.
O jornal segue a linha corrente nos círculos diplomáticos, nos quais se sugere que ao lidar com Damasco é preciso lembrar a situação do outro lado da fronteira.
''O Iraque deve ser uma lição para todos. Não se pode derrubar um regime sem uma verdadeira alternativa. O vazio político insufla o terrorismo'', declarou um representante da Liga Árabe, em anonimato.
A suposta fraqueza do regime sírio e a carência absoluta de uma opção política se transformaram nos melhores aliados do jovem líder frente a um futuro incerto, avaliam os jornais.
Desde julho de 2000, Assad tenta consolidar-se no poder e derrotar a ''velha-guarda'' que seu pai domou com mão de ferro. Quando este morreu, parte da maioria sunita viu a oportunidade de tirar do poder a facção alauí, que representa 20% da população. Mas Bashar impediu esse movimento.
Mas o líder anti sírio druso Walid Jumblatt advertiu que o presidente e o partido Baath em Damasco poderiam enfrentar a mesma sina que Saddam Hussein e seus baathistas viveram na derrocada em Bagdá.
- Se ele age como Saddam, teremos uma situação igual. Mas se agir pela unidade nacional diante do irmão, do cunhado, ou de qualquer outra pessoa, pode salvar a Síria.