Título: Crédito farto, ganho recorde
Autor: Mariana Carneiro, Simone Cavalcanti e Léa De Luca
Fonte: Jornal do Brasil, 02/11/2005, Economia & Negócios, p. A17

O Itaú abriu ontem a nova temporada de lucros recordes de instituições financeiras, que deverá ter novos capítulos espetaculares na semana que vem, com a divulgação dos resultados de Bradesco e Unibanco. O segundo maior banco privado do país registrou lucro líquido de R$ 3,827 bilhões nos nove primeiros meses do ano, o maior da história do setor e acima do verificado em todo ano passado pelo banco (R$ 3,77 bilhões). Os ganhos até setembro são 39,4% superiores aos R$ 2,745 acumulados no mesmo período do ano passado. Novamente, os resultados foram impulsionados pela expansão do crédito, reafirmando a mudança de perfil que vem acontecendo no setor bancário, antes calcado nos ganhos com tesouraria (títulos do governo).

O estoque de empréstimos encerrou setembro em R$ 61,616 bilhões ante R$ 58,647 bilhões registrados em junho, um crescimento de 15,7% em relação a dezembro. Já o rendimento com tesouraria ficou em R$ 18,312 bilhões.

O crédito a pessoas físicas já soma R$ 25,593 bilhões - 40,1% sobre dezembro de 2004.

Para o analista financeiro Edson Carminatti, da ABM Consulting, todos os balanços dos bancos vão apresentar elevações consistentes no volume de crédito concedido e menor exposição aos títulos do governo, a partir da perspectiva de queda da taxa básica de juros (Selic) e crescimento econômico. O diferencial é como a transição será operada em cada instituição.

- O mercado avaliará se os bancos estão preparados para a queda da taxa de juros. O Itaú parece estar atuando de olho no longo prazo e reduzindo sua dependência no mercado financeiro - avalia.

Segundo ele, a participação dos títulos na receita de intermediação financeira do Itaú caiu de 32%, no terceiro trimestre do ano passado, para 19% em 2005. Já a fatia do crédito subiu de 57% para 65%. Além disso, o banco mostrou-se eficaz na captação menos onerosa de recursos.

- O Itaú conseguiu captar recursos mais baratos, o que reduziu em 44% as despesas com intermediação financeira - constata Carminatti.

Segundo ele, o dólar baixo ajudou a impulsionar as captações no mercado externo, com taxas mais vantajosas, e a estabilidade interna elevou o volume recursos depositados.

- Até então o banco captava via CDB (crédito de depósito bancário), com uma taxa de cerca de 1,35% ao mês. Com as campanhas para elevar os depósitos, comprovada no volume captado a prazo, o custo é de 0,7% a 1% ao mês. Nas emissões externas, o Itaú chegou a lançar com um custo de 4,5% ao ano - verificou Carminatti.

- Se a economia vai bem, é bom para os bancos. No caso do Itaú, ele conseguiu elevar as operações de crédito com redução das despesas de intermediação, o que explica o resultado - diz o analista.

Para o diretor-executivo de controladoria do Itaú, Silvio de Carvalho, a instituição está mantendo a estratégia correta ao apostar na venda de produtos bancários, como seguro e previdência, e em empréstimos que garantem margem de rentabilidade, como o crédito para as pessoas físicas. À espera de novos recordes, o mercado já deu seu palpite e as ações do Bradesco subiram 5,26%.