Título: Washington sobe o tom do discurso
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Fonte: Jornal do Brasil, 03/11/2005, Internacional, p. A3

Embora o presidente dos EUA, George Bush, não queira, aparentemente, um confronto com o líder da Venezuela, Hugo Chávez, seus assessores não escondem que a pressão americana vai aumentar contra Caracas. Com a Casa Branca enfrentando uma grave crise interna, os democratas viram no avanço da agressiva política venezuelana a comprovação de mais um erro na administração Bush. A falta de atenção aos interesses da América do Sul deixou o vácuo por onde as idéias apoiadas nas enormes reservas petrolíferas de Chávez avançaram.

O conselheiro de Segurança Nacional do presidente, Stephen Hadley, disse estar preocupado com o status da democracia na Venezuela de Chávez e questionou o motivo pelo qual o país precisaria de um reator nuclear, em negociação com a Argentina. As declarações foram feitas na véspera da viagem de Bush a Mar del Plata, onde espera-se um discurso americano com foco no livre comércio e na democracia como chave para eliminar a pobreza.

O alto funcionário não escondeu o desprazer ao responder uma pergunta sobre o líder venezuelano:

- Essa cúpula não é sobre Hugo Chávez - cortou.

Inimigo dos EUA, Chávez prometeu essa semana enviar aviões de combate, do tipo caça F-16, para Cuba ou China, se Washington se recusar a vender a seu país peças necessárias para a manutenção das aeronaves. O autoproclamado socialista pretende ser um contrapeso à influência regional do governo americano.

Hadley afirmou que, em tempos de alta nos preços da gasolina, ''poderia se esperar progresso na luta contra a pobreza e prosperidade'' na Venezuela:

- Mas não é o que estamos vendo. Assistimos a uma deterioração na economia do país.

Para o funcionário da Casa Branca, há pouco interesse internacional para que o venezuelano tenha um reator nuclear:

- Ele até agora não conseguiu apoio de ninguém. Acho que é porque as pessoas sabem que seria problemático se Chávez entrasse para o negócio nuclear - atacou.

Já Bush fez-se de desentendido do assunto quando perguntado por jornalistas latinos na entrevista coletiva de ontem:

- É a primeira vez que escuto isso. E é uma questão interessante - afirmou, destacando que há salvaguardas a que todos devem aderir e estava disposto a conversar com o presidente argentino, Néstor Kirchner, em sua visita ao país. - Acho que, se pagasse impostos na Venezuela, iria me questionar sobre o potencial energético do país, mas talvez isso faça sentido - completou.

Ainda durante a entrevista, mas sem deixar claro a que países se referia - provavelmente a Cuba e a Venezuela -, o presidente americano destacou o papel da democracia no continente:

- O importante é que celebrem eleições livres e justas para que a população tenha a liberdade para se expressar nas urnas. Há lugares onde as pessoas não podem decidir porque quem decide é a elite, um pequeno grupo responsável pelo destino do povo. Na história, isso levou a ressentimento, ódio, revoltas e conflitos - disparou.

Logo depois, referindo-se a Chávez sem citá-lo, afirmou:

- Se achamos que algumas pessoas estão alterando o curso normal da democracia, minando instituições como a liberdade de imprensa, não permitindo que a população exerça seus direitos religiosos, falaremos claro e esperamos que os outros também o façam - ameaçou.