Título: A paralisia da Alca
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 03/11/2005, Opinião, p. A12

Superados mais de dez anos da primeira reunião de cúpula dos países da América, é lamentável que não se tenha conseguido trilhar o caminho necessário para a concretização da Alca. Os rumos traçados no encontro de cúpula de Mar del Plata sugerem pessimismos adicionais. Sem consenso entre os negociadores presentes ao balneário argentino, novas discussões sobre a zona de livre comércio das Américas serão adiadas. Em 1994, chefes de Estado de todo o continente, exceto Cuba, reuniram-se em Miami e assinaram documento comprometendo-se a negociar a Alca até o início de 2005. Esse prazo, evidentemente, esgotou-se. A questão agora é saber se ainda há perspectiva de avanços. O próprio presidente George Bush reconheceu que a Alca empacou. Sem êxito no âmbito do hemisfério, as fichas se transferem para a rodada da Organização Mundial do Comércio, que ocorre em dezembro, em Hong Kong. O momento, sublinhou o presidente americano, é de empenho para se chegar a um acordo global para a redução dos subsídios agrícolas.

Trata-se de um assunto igualmente relevante para os países em desenvolvimento. A redução dos subsídios tornou-se fundamental para um comércio mais justo e para a sonhada liberalização comercial em escala global. Impressiona, contudo, a insistência dos ventos contrários à concretização da Alca, sentidos especialmente entre negociadores brasileiros, argentinos e americanos. Não são raros os insones assombrados que tentam impingir a tese de que a Alca constitui uma anexação para os países latino-americanos.

Embora a gestão de Bush tenha revelado pouca preocupação com os rumos econômicos das nações pobres e em desenvolvimento, o mercado americano é dramaticamente importante aos países latino-americanos. A Alca pode permitir à região, em geral, e ao Brasil, em particular, obterem ganhos comerciais. Os EUA são o principal mercado exportador brasileiro, depois da União Européia; constituem o destino de pelo menos 20% de nossas exportações. O produto brasileiro, porém, mal arranhou o território americano. O volume exportado no ano passado equivale a menos de 1,5% daquele mercado. Há, porém, muito o que conquistar.