Título: ¿Não haverá candidatura única¿
Autor: Eveline de Assis e Luciana Navarro
Fonte: Jornal do Brasil, 03/11/2005, Brasília, p. D6
A idéia de uma candidatura única da ala governista ao Buriti é meio complicada e não há como se chegar a ela, inclusive porque, assumindo o governo, a vice Maria de Lourdes Abadia será candidata natural à reeleição. Mas as candidaturas mais fortes permanecem no PFL, as do deputado José Roberto Arruda e do senador Paulo Octávio. Quem pensa assim é o seguinte na linha de sucessão, o presidente da Câmara Legislativa, deputado Fábio Barcellos (PFL/DF). Ele nasceu no Rio de Janeiro, mas mora em Brasília há quase 30 anos. Foi três vezes presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal, e, em sua primeira eleição para deputado distrital, obteve 7.190 votos. A presidência da Casa para o biênio 2005/2006 foi alcançada com o compromisso de resgatar a imagem da Casa com a sociedade. Ele garante que essa transparência está sendo respeitada, mas lembra que não tem como interferir no comportamento pessoal dos colegas. Registra, porém, que a população precisaria de melhores exemplos dos parlamentares, em uma referência às acusações entre distritais. Nesse sentido, avisa que encaminhará os processos relativos aos distritais à Corregedeoria, assim como acredita que as CPIs da Câmara não acabarão em pizza. - O PFL vai ter candidato próprio?
- Tendo hoje o PFL os dois maiores nomes que aparecem nas pesquisas para a sucessão do governador Roriz, seria uma incoerência não ter um candidato próprio. O que nós torcemos é que esse candidato tenha o apoio do governador Roriz.
- Dentro do partido, como vai ser a decisão para definir esse candidato? O deputado José Roberto Arruda diz uma coisa, o senador Paulo Octávio diz outra...
- Vou pelo que disse o presidente do partido, Jorge Bornhausen: quem vai decidir é o partido, no Distrito Federal, aquelas pessoas que compõem a executiva do partido. Olha só: você tem os dois maiores nomes da política do DF. Imagine correr o risco de deixar que esses dois fiquem se digladiando e beneficiar um terceiro que está lá do outro lado.
- O senhor não acha que é isso que está acontecendo?
- Não, acho que é isso que estão querendo, mas não é isso que vai acontecer. Ontem tivemos uma reunião na Executiva, inclusive eu disse o seguinte: se é para ficar na briga de dois, vou lançar um terceiro. Vou pegar a Eliana Pedrosa e vou lançá-la candidata ao governo. Mas isso é só para mostrar que o partido não é de A nem de B. Mas é óbvio que cada candidato tem que puxar a sardinha pro seu lado. Até falei que estou me sentindo uma noiva, a maior gata. Os caras estão todos apaixonados por mim, estão todos querendo casar comigo. Sou presidente do Legislativo. Então é óbvio que esses dois candidatos do partido querem casar comigo. Se eu for entrar nessa onda agora, eu agrado a um e desagrado a outro, seja para que lado for.
- Então o senhor vai depender da posição do governador Roriz?
- Não, neste momento não tenho de ter posição porque o partido tem que analisar muito bem os nomes para que a gente possa escolher. Eu me dou muito bem com todos os dois, mas essa também não é uma decisão minha, é uma decisão do partido.
- Quando o senhor acha que essa decisão vai acontecer?
- Acho que hoje ela realmente seria precoce até porque você instiga a uma briga e desmotiva dois candidatos que hoje estão levantando o nome do PFL na rua.
- O senhor não acha que isso já está acontecendo?
- Isso está acontecendo agora, às vezes, com alguns correligionários. Por exemplo, estou achando que o deputado Izalci, que é meu amigo e membro do partido, tem de falar um pouco menos, tem de esperar que o partido se manifeste .
- E o comentário do Fraga, falando que houve um acordo, que o Paulo Octávio teria desistido da candidatura em favor do Arruda?
- Vou pelo comentário do Bornhausen. O Fraga chegou agora no partido, assim como eu também tenho muito pouco tempo. Essa decisão vai ficar para nós, membros, e na hora certa vamos decidir.
- Quem são os que querem essa briga?
- Estão envolvidos todos aqueles que não têm interesse por uma candidatura do PFL.
- Inclusive o governador?
- O governador tem partido? Então incluo o governador também, se estão todos os outros partidos... Para o PT, para o PMDB, para o PSDB, para todos eles interessa muito. Eu diria que se o Arruda ou o Paulo estivessem no PMDB, ou no PSDB, ou no PT, nenhum desses partidos estariam levantando isso. Agora, óbvio, se não estão no partido deles, e a chance de fazer o governador é muito maior do PFL, e unidos, maior ainda, todos, não interessa a nenhum deles, de cabo a rabo, do faxineiro filiado ao PMDB ao governador, do lá de baixo filiado ao PT, ao presidente.
- O governador Roriz está defendendo uma candidatura única, unindo PFL, PMDB e PSDB que são os três partidos fortes para a disputa. Aí a Abadia já descartaria a candidatura como vice porque ela assumiria o governo em abril...
- A Abadia era candidata ao governo.
- Se ela assumir o governo em abril...
- Então é candidata ao governo. Se ela é a vice dele e vai assumir o governo para concorrer ao governo do Distrito Federal, você me desculpa, mas se isso não passar por um acordo, você vai me desculpar, ou eu sou muito bobo. Ora, acho que se ele quisesse fazê-la senadora, ela seria candidata ao Senado. Se ele quisesse que ela fosse deputada, seria candidata a deputada, sendo eleita com o apoio dele. Então, não sei.
- Na avaliação de um cientista político sobre a sucessão no DF, ele mostrou o seguinte: o pior cenário para o Roriz é o Paulo Octávio ou o Arruda ganharem porque eles têm luz própria e não precisam necessariamente do Roriz. Qualquer um dos dois que entrar no poder, fica e vão concorre à reeleição. Ou seja, só sai em 2014. A Abadia, concorrendo à reeleição, sai daqui a quatro anos. O Roriz pode voltar. Existe um boato de uma aliança do senhor com a Abadia, para que ela não assumisse o governo, assim ela poderia sair como vice novamente e o senhor assumiria o governo em abril.
- Ela é candidata ao governo. Não existe acordo nenhum para eu assumir o governo. Aliás, isso só interessa para os meus inimigos políticos. Se dizem que vou assumir o governo, não preciso trabalhar para ser candidato a deputado distrital. Tudo que escuto é que era um sonho da Maria de Lourdes assumir o governo nesse período. Acho apenas que é uma pena, porque se ela não for eleita, praticamente encerra sua carreira política. É uma mulher de uma história muito bonita para deixar isso acabar. Mas não há nenhum acordo entre nós, ao contrário, tudo que sei é que ela realmente vai o governo em nove meses e tentar a eleição. É aí onde acho que aquela conversa de uma candidatura única é meio complicada, não tem como ter isso.
- O presidente do Sindicato dos Policiais Civis, está querendo se candidatar a distrital.
- Pelo PFL, não. Ele está em outro partido. O direito é democrático para todo mundo. O Wellington foi um grande companheiro quando estive no Sinpol. Acho apenas estou fazendo um bom mandato e que posso me reeleger. Mas não posso tirar dele esse direito.
- Isso não pode tirar voto do senhor?
- Pode tirar alguns votos, ganha-se outros. Não nasci deputado.
- O senhor foi convidado para ir para o PSDB?
- Eu me senti bem sabendo que outros partidos gostariam de me ter em suas legendas. Isso pra mim é gratificante, porque é como se fosse um reconhecimento de que as coisas estão caminhando bem, porque nem tenho esse potencial de voto. Fui eleito com 7.190 votos.
- Não foi só para o PSDB?
- Graças a Deus tive convite para alguns partidos.
- Por que o senhor não quis sair do PFL?
- Porque acho que isso tem que ser levado com um pouco mais de seriedade. Não posso pular do meu partido só porque acho que tem pessoas que têm uma capacidade de voto maior do que a minha.
- E essa dobradinha que se fala do senhor com Lerte Bessa, ele para federal, o senhor para distrital. Isso vai acontecer mesmo?
- Torço muito para que isso aconteça. O único empecilho que podemos vir a ter é com a questão da verticalização. Agora, o Bessa é uma pessoa sensacional, é um diretor que se encontra à frente da Polícia Civil há quase oito anos, é meu amigo pessoal, e os problemas que temos conseguimos resolvê-los com facilidade. Além do que não temos um nome no meio policial civil que pudesse exercer, diria que com força, com vontade, com amor à camisa, a função de deputado federal. Não tem candidato, é o Bessa, e eu gostaria muito de poder estar fortalecendo essa dobradinha.
- E essa briga do Wigão com o José Edmar?
- Acho muito triste você ter dois parlamentares numa discussão que leva toda ela ao campo pessoal. Os dois casos serão encaminhados para a Corregedoria. A próxima reunião da Mesa Diretora será na quarta-feira da semana que vem, quando o ato nesse sentido será apreciado, encaminhado ao Plenário para ser lido e encaminhado à corregedora. A Câmara não deixará de dar resposta. Eu fico triste porque acho que nesse momento a população precisaria de melhores exemplos de nós parlamentares e não assistir entristecida a tudo isso que ela está vendo.
- Essa briga deles pode acabar...
- Talvez não possa ser frieza minha, não.
- Com relação aos pedidos de processo...
- Já estão todos eles na Comissão de Constituição e Justiça. Não fico com processo parado. Esse processo se encontra com o deputado Júnior Brunelli, presidente da CCJ.
- O senhor acha que as CPIs da Educação e da Saúde terão um desfecho?
- Acho que sim. Contrariando aquilo que falaram, não vai haver pizza. Sei que chegará a um desfecho. Qual será ele, não posso dizer. Mas a informação que eu tenho das duas presidências é que as coisas estão sendo muito bem apuradas. Acredito no trabalho das comissões e elas estão tendo toda a liberdade para assim fazê-lo aqui na Casa. Devemos satisfação à sociedade, não arrumando culpados, mas demonstrando o porque, de que forma e qual conclusão a que se chegou.
- O senhor não acha que está sendo feita uma blindagem do atual governo nessa CPI?
- Acho que não. Nunca ninguém chegou pra mim e disse algo. Particularmente, acho que não.
- No caso da CPI da Saúde, querendo ou não, o principal investigado foi colocado ali por Roriz.
- Sabe o que o governador me falou uma vez? ''Com um amigo meu, vou até a beira da cova''. O governador não ia se deixar se complicar por um cara que tem a pretensão de ser um deputado distrital. Tanto é que quando o Roriz viu a coisa, na mesma hora afastou o cara. Quando viu quem estava lá e como agia, na mesma hora tirou. E agora achou que acertou com o Geraldo Maciel. Pelo menos isso é uma coisa que está começando a ficar a olhos nus, todo mundo está enxergando.
- A moralidade aqui na Casa, a questão do José Edmar, do Wigão, Benício...
- O caso Benício, a matéria foi lida e encaminhada à corregedoria. O caso Benício está sendo um pouco forçação, porque naquela história não há fato novo. Se você parar para olhar mesmo, o que achei que a Justiça iria entender, é que não há fato novo, o que motiva a abertura de um processo. Mas tudo bem, se encaminhou. Mas é uma questão que na hora que entrarem em cima na questão legal, não tem justificativa. Se você me falar: tem o outro processo. Sobre o outro processo eu não falo, tem que ser tudo apurado. Mas a motivação é a mesma, não há fato novo. Tenho uma pena muito grande sobre a atual situação dele. Você não ouviu falar de mais ninguém que estava com ele. E tem empresários fortes de São Paulo, mas pegaram quem? O deputado dá melhor na mídia, então pegaram o cara. Enquanto pegaram ele, o próprio contrato, que não acredito nessa virilidade, conheço a história dele, sei onde é a lesão dele. Um cara que só faz xixi com sonda, acho difícil ter algum prazer. Mas tudo bem, entra na questão do homem também. Eu não me sentiria bem em ir para a televisão e falar. Mas foi ótimo falaram do Benício e não falarem de mais ninguém. Ele segurou tudo.
- Alguma cassação...
- Não poderia nunca pré-julgar. Eu estaria criando juízo de valor agora. Talvez o deputado Fábio, presidente da Comissão de Constituição e Justiça pudesse, mas precisa ter uma postura de magistrado. Não poderia antecipar um juízo de valor sobre algo que ainda não tenho concretizado.
- Quando o senhor assumiu, tratou muito da moralização da Câmara. Como o senhor se sente vendo essas confusões?
- Eu não tive nenhum problema administrativo. Quando falei de moralidade, falei daquela que eu posso falar por ela, a gestão administrativa da Câmara Legislativa. Mas eu não posso falar de moralidade quando se trata de elo pessoal entre uma pessoa ou outra, quando a sua atitude como ser humano é que vai contar pra você. Posso te garantir que não vou te dar dinheiro sem você apresentar um serviço. E não vou arrumar no concurso daqui. As contas daqui serão abertas pra todo mundo. Isso tudo eu posso. Mas não posso dizer como é que fulano vai se portar na rua. Agora, o fulano tem que saber que nesta gestão administrativa ele vai responder por aquilo que ele fizer. Criar um juízo de valor sobre a postura dele, é eu estar deixando a posição de magistrado. E aí, neste momento, como presidente da Casa, não poderia fazê-lo.