Título: Perdas com aftosa se intensificam em novembro
Autor: Karla Correia
Fonte: Jornal do Brasil, 03/11/2005, Economia & Negócios, p. A16

Os exportadores de carne bovina e suína acreditam que o pior impacto da descoberta de focos da febre aftosa nas exportações será sentido este mês. A estimativa é de que o mês, considerado o ''olho do furacão'' da crise vivida pelo setor privado, apresente perdas de US$ 100 milhões nas vendas externas na comparação com outubro, que já apresentou uma diminuição de US$ 68 milhões em relação ao mês anterior. Somados, os dois meses responderão por uma redução de 8,3% no resultado previsto para este ano nas exportações do setor. Os bloqueios no mercado externo à carne brasileira se agravaram após a suspeita sobre quatro focos da doença no estado do Paraná, de acordo com o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antônio Camardelli.

- Nós anulamos os avanços que já havíamos conseguido com os países compradores depois da suspeita de focos no Paraná. Agora temos que recuperar esse espaço e tentar cortar o efeito dominó dos bloqueios impostos à carne brasileira - disse o empresário.

O setor privado cobra mais firmeza do Ministério da Agricultura nas ações para reverter, o mais rápido possível, o bloqueio feito por 50 países à carne brasileira. Ontem, exportadores de carne pediram ao ministro Roberto Rodrigues não só mais agilidade na divulgação de informações técnicas sobre os focos de aftosa a esses países, como também para retomar os convites a autoridades internacionais para visitar os locais onde foram encontrados os focos da doença.

Além disso, os empresários sugerem que as embaixadas brasileiras contem com adidos agrícolas, que possam facilitar a comunicação com os principais mercados externos e acelerar soluções em caso de crise.

Na estimativa do governo, as perdas das exportações com a aftosa devem chegar a US$ 1,7 bilhão, somando todo o período de embargo, que deve durar seis meses, na previsão do Ministério da Agricultura. Desse montante, US$ 1,1 bilhão estão relacionados às vendas de carne bovina, enquanto os outros US$ 600 milhões, à carne suína.

A maior baixa nas exportações de carne brasileira se deu nos embarques destinados à União Européia, mercado que compra quase a totalidade dos chamados ''cortes especiais'' de carne (filé mignon, contra-filé e alcatra) produzidos no Brasil. As vendas ao bloco caíram de US$ 66,2 bilhões para US$ 38,8 bilhões, entre outubro de 2004 e o mês passado.

Na avaliação de Camardelli, com a intensificação das ações conjuntas entre governo e setor privado, o impacto da crise deve começar a retroceder a partir de dezembro. Recuperação total das vendas, entretanto, só acontecerá gradualmente, em 2006.