Título: O roteiro do empréstimo fictício
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 04/11/2005, País, p. A2

BRASÍLIA - Documentos de posse da CPI dos Correios comprovariam o roteiro do dinheiro que sairia da Visanet e desaguaria nas contas do PT, a pretexto de empréstimo, por meio do banco BMG. Pela investigação, numa primeira operação, datada do dia 12 de março de 2004, a Visanet repassou R$ 35 milhões à DNA Propaganda, de Marcos Valério. Três dias depois, a DNA fez uma aplicação de R$ 34,8 milhões num fundo do BB. No mês seguinte, a DNA transferiu R$ 10 milhões ao Banco BMG para, quatro dias depois, contrair um empréstimo no mesmo valor. O empréstimo consta da relação de Marcos Valério como sendo para o PT.

Há indícios ainda de que outras estatais participassem do esquema.

Em maio de 2003, teria ocorrido operação semelhante, desta vez com um depósito pela Visanet no valor de R$ 23,3 milhões. O repasse resultou num empréstimo de R$ 19 milhões para o PT, por meio da SMPB, outra agência de publicidade controlada por Valério. Mas, nesse caso, a CPI ainda não conseguiu comprovar com exatidão o elo entre as transações e o empréstimo petista, como na do ano de 2004.

O período das transações coincide com o desembarque de Henrique Pizzolato, um dos signatários da nota técnica autorizando a liberação da verba, na direção de marketing do Banco do Brasil. Segundo a CPI, até o ano de 2002, os recursos da publicidade da Visanet eram repassados a três empresas que prestavam serviços ao BB. A partir de 2003, com a chegada de Pizzolato, um dos homens da confiança do ex-ministro Luiz Gushiken, a agência DNA passou a ter exclusividade.

Questionado se haveria a possibilidade de as transações terem o dedo do ex-ministro Gushiken, uma vez que toda publicidade do governo era centralizada na Secom, da qual era titular até junho desse ano, Serraglio foi taxativo:

- É uma hipótese que não pode ser descartada.

Como o dinheiro foi liberado para um serviço que na verdade não foi realizado pela DNA, a CPI pretende convocar Pizzolato e os demais diretores do Banco do Brasil envolvidos na operação. Entre eles estão o também ex-diretor de Marketing, Douglas Macedo, o gerente-executivo, Leonardo Batista, além do gerente-executivo Cláudio de Castro Vanconcelos e o diretor Fernando Barbosa de Oliveira.

- Ninguém paga esse montante, ainda mais por serviço antecipado - alertou Osmar Serraglio.

Para o relator, os envolvidos podem ser enquadrados em diversos crimes, como prevaricação, peculato, corrupção ativa e passiva, tráfico de influência e lavagem de dinheiro.