Título: Governo é poupado
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 04/11/2005, País, p. A5

BRASÍLIA - Os deputados que disseram ter as linhas telefônicas grampeadas descartaram ontem a possibilidade de as escutas serem patrocinadas pelo governo. Ricardo Izar (PTB-SP), presidente do Conselho de Ética, afirmou que nem o governo nem a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) instalariam um grampo para investigar parlamentares. - Não tenho idéia de quem se interessa por esses grampos. Tenho certeza de que não seriam do governo ou da Abin. Eles estão acima dessas coisas - afirmou Izar.

O deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), o primeiro a denunciar os grampos, também disse não acreditar que o governo esteja por trás desse esquema, mas disse ter tido informações de que a Abin investiga sua atuação e os telefonemas do deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), que relatou que um parlamentar do PT mostrou documentos que apontariam investigações semanais feitas pela Abin contra ele e ACM Neto.

- Nós recebemos informações de que agentes da Abin estariam fazendo relatórios semanais sobre parlamentares que participam das investigações - disse Paes.

O relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR), que também disse ter o telefone grampeado, afirmou que pedirá à Polícia Federal uma varredura em seus aparelhos e nos telefones dos sub-relatores da comissão. Ontem, ele pediu por telefone ao delegado da Polícia Federal, André Luiz Martins Epifânio, que rastreie suas linhas telefônicas fixas e móveis e afirmou que processará os responsáveis caso sejam identificados. Segundo ele, suas ligações estão sendo interrompidas enquanto fala e, quando liga para alguém, escuta outras pessoas conversando.

- Alguma coisa está acontecendo: ou é técnica ou estou sendo monitorado.

Sobre o rastreamento dos telefones dos sub-relatores da comissão, ele disse:

- Vamos rastrear. Ninguém vai invadir o sigilo de ninguém. Só vamos saber se está havendo interceptação - explicou o parlamentar.

O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), destacou a gravidade da denúncia sobre o crime, da qual tomou conhecimento oficialmente ontem.

- A vida democrática não pode tolerar essas escuta telefônica clandestina contra deputados, senadores, representantes do Judiciário, do Executivo, da imprensa ou contra qualquer cidadão brasileiro.