Título: Parlamentares fazem novas denúncias
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Fonte: Jornal do Brasil, 04/11/2005, País, p. A5
Aldo pede que a Polícia Federal apure acusações de telefones grampeados. Sala do Conselho de Ética passa por varredura
BRASÍLIA - Denúncias dos parlamentares que apuram o escândalo do mensalão e dizem que suas conversas telefônicas estão sendo monitoradas se alastraram ontem pelo Senado. Houve uma varredura nas salas do Conselho de Ética da Câmara e o presidente da Casa, Aldo Rebelo (PC do B-SP), pediu que a Polícia Federal apure o caso. Os senadores Álvaro Dias (PSDB-PR), Paulo Paim (PT-RS) e Heloisa Helena (P-SOL-AL) e a deputada Ângela Guadagnin (PT-SP), que é ligada ao ex-ministro José Dirceu (PT-SP), reclamaram ontem que suas chamadas telefônicas estão sendo rastreadas. Com essas denúncias, sobe para nove o número de parlamentares que se queixaram de estar sendo vigiados. A maioria deles diz ''não ter idéia'' da autoria dos supostos grampos.
Em ofício ao ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, Aldo Rebelo pede que as reclamações de Ricardo Izar (PTB-SP), presidente do Conselho de Ética, Osmar Serraglio (PMDB-PR), relator da CPI dos Correios, e Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), sub-relator da CPI, sejam investigadas. Aldo afirmou ontem que ''não pode haver tolerância contra esse tipo de crime'' e que considera as denúncias ''graves''.
- Escuta telefônica sem autorização da Justiça é crime. É caso de polícia. Cabe ao Ministério Público e à Polícia Federal tomar providências. Mas a Câmara dos Deputados e a Polícia da Câmara também vão tomar as medidas que estão a seu alcance - disse Aldo.
Na Câmara, a Polícia Legislativa fez uma varredura nos telefones das salas do Conselho de Ética, mas nenhuma irregularidade foi detectada.
As denúncias começaram a ser feitas por ACM Neto, que acusou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) de estar vigiando suas conversas desde que ele assumiu a sub-relatoria da CPI. A Abin respondeu dizendo que as denúncias ''carecem de fundamento''.
Ontem, ACM Neto enviou ofícios para Aldo, Thomaz Bastos e para o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, general Jorge Félix, relatando o caso. O pefelista disse ter descoberto o grampo porque uma de suas conversas sigilosas teria vazado para um governista. As denúncias geraram informações desencontradas. Alguns deputados afirmaram que ACM Neto descobriu o grampo porque foi alertado por um petista. E surgiram rumores que o deputado seria Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP). Os dois negaram.
- Conversei com o Antonio Carlos Neto na terça-feira e ele me contou que estava sendo grampeado pela Abin. Disse que tinha a minha solidariedade, mas que a Abin não faria isso e que hoje em dia é muito fácil qualquer um fazer um grampo - disse o petista.
O senador Romeu Tuma (PFL-SP), que integra a CPI dos Bingos, também fez uma denúncia ontem: ele disse que seu escritório político foi arrombado de madrugada.
Apelidada nos corredores do Congresso de ''epidemia dos grampos'', a onda de denúncias também ganhou adeptos que não participam das investigações do mensalão. Entre eles, o senador Paulo Paim, que solicitou à Mesa Diretora uma varredura nos telefones dos gabinetes, residências e celulares dos senadores.
- Acredito que os meus telefones, como a da maioria dos parlamentares, estão grampeados.
O advogado José Luiz Oliveira Lima, que defende Dirceu, disse desconfiar que também está sendo grampeado. Ele contou que há um mês começou a escutar ''barulhos estranhos'', como se fossem estalos, e que as ligações caem freqüentemente.
Com Folhapress