Título: Subsídios agrícolas em pauta
Autor: Kelly Oliveira
Fonte: Jornal do Brasil, 07/11/2005, País, p. A4

Num discurso lido, de cinco páginas, no qual não se referiu uma única vez à Área de Livre Comércio das Américas (Alca), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que os dois governos concordam que ¿a redução e eventual eliminação dos subsídios à agricultura é a chave para o equilíbrio da Rodada (de Doha)¿. A negociação, no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), para que os Estados Unidos e os países ricos diminuam significativamente as barreiras protecionistas aos produtos exportados pelo Brasil e demais países em desenvolvimento, foi um dos pontos mais importantes discutidos por Lula e o presidente americano George W. Bush, dos Estados Unidos. Ficou prometido que ¿a conclusão exitosa¿ ficaria para o fim de 2006. O presidente Bush esforçou-se para fazer um discurso descontraído, mesmo sabendo que não conseguiria consenso com relação à Alca. Em mangas de camisa, no pódio instalado no gramado da Granja do Torto, ao lado de Lula, Bush, entretanto, tentou mais uma cartada em direção à área de livre comércio. O americano disse ter entendido o ¿recado¿ do brasileiro e concordou que a Rodada de Doha será um ¿progresso¿ na busca de um comércio internacional ¿mais justo e mais livre¿. No entanto, frisou que a Alca precisa estar na agenda de discussão, apesar de reconhecer a decisão do presidente Lula de só avançar nas negociações da área de livre comércio depois de resultados positivos na Rodada.

¿ Ouvi bem a mensagem do presidente Lula. É importante o povo brasileiro entender que a Alca não será feita, se o presidente não achar que é de interesse da nação. O povo brasileiro precisa ser convencido disso, assim como o povo americano precisa ser convencido de que a Alca é boa para gerar emprego e qualidade de vida ¿ disse Bush.

Os dois presidentes aproveitaram para trocar elogios. Lula destacou que o seu governo tem buscado o ¿aprofundamento¿ das relações bilaterais, tanto com os Estados Unidos, como com o países da África, da Ásia, inclusive os árabes, e também da América do Sul.

¿ Quando de minha eleição para a presidência, não faltaram alguns para prever a deterioração das relações entre o Brasil e Estados Unidos. Equivocaram-se redondamente. Nossas relações atravessam hoje um dos seus melhores momentos ¿ disse Lula.

O presidente americano também afirmou que Lula acredita fortemente na democracia, na liberdade de expressão, de religião e de imprensa.

¿ Somos as duas maiores democracias do mundo. Dessa forma, temos a obrigação de trabalharmos juntos para promover a paz e a prosperidade. Podemos ter um comércio livre, sem perder a identidade nacional, sem penalizar os pequenos produtores ¿ afirmou Bush.

O presidente americano acrescentou que os Estados Unidos estão dispostos a reduzir os seus subsídios agrícolas, se a União Européia fizer o mesmo. Bush fez elogios à economia na era Lula. Na opinião de Bush, entre os resultados da política econômica do governo Lula está a manutenção da inflação baixa e o aumento do comércio exterior.

¿ Fiquei impressionado com as reformas econômicas que o presidente Lula fez no Brasil ¿ comentou.

Bush agradeceu o papel de liderança do presidente Lula na América Latina e o trabalho de tropas brasileiras no Haiti, que lideram uma missão de paz da ONU. E acrescentou que o presidente Lula compreende que o tráfico de drogas e o terrorismo podem ¿perturbar¿ a democracia. ¿ Nós sempre colocamos os direitos humanos à frente de nossas políticas. Mas nós também sabemos que temos que trabalhar para impedir a ação daqueles que matam inocentes ¿ disse.

Antes de fazerem a declaração à imprensa, os dois presidentes estiveram reunidos por cerca de uma hora e meia, com a participação do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, e a secretária de Estado americana, Condolezza Rice. O encontro inicial estava previsto para durar apenas meia hora, seguida de reunião ampliada com a presença dos principais assessores dos dois governantes, que não aconteceu.