Título: Coronel combate pedintes
Autor: Ricardo Albuquerque
Fonte: Jornal do Brasil, 07/11/2005, Rio, p. A9

O comandante do 23º BPM (Leblon), coronel Carlos Norberto Mendes, considera a população de rua o principal fator para explicar a sensação de insegurança que se abateu sobre comerciantes e moradores de Leblon e Ipanema. Segundo ele, a migração de pessoas de outros bairros e da Baixada Fluminense para a Zona Sul se transformou no maior problema da região. Na opinião do coronel, os conflitos na Rocinha e no Vidigal, que já provocaram o fechamento da Lagoa-Barra e da Avenida Niemeyer, são insuficientes para amedrontar os cerca de 110 mil habitantes dos dois bairros. - Com apoio da Justiça e da iniciativa privada, os órgãos municipal e estadual deveriam promover uma ação social efetiva para tirar essas pessoas das ruas porque não cabe à Polícia Militar fazer esse serviço - afirma o coronel.

Ao contrário do coronel, a comerciante Ana Cristina Cortes, 40, nascida e criada no Leblon, concorda com o resultado da pesquisa do JB On Line. No ar de quinta-feira até ontem, a enquete mostrou a desconfiança do carioca com a polícia: 92% das pessoas que acessaram o site responderam ''não'' à pergunta ''Você acha que a polícia garante segurança na Zona Sul e na Barra?''. Ana Cristina culpa a ineficácia da polícia para explicar o crescimento da violência. Depois de ter o apartamento assaltado duas vezes em menos de um ano, Ana Cristina, o marido e o filho Victor ameaçam sair do Rio de Janeiro para escapar do problema. Já a engenheira Elizabeth Gomes Barros, 49, acredita que a insegurança é conseqüência da péssima política educacional da cidade, além de criticar a falta de mobilização das pessoas para enfrentar a questão.

- Cadê o Chico Buarque? Cadê os artistas? Eles estão vendo a banda da corrupção passar e não se manifestam. Vivemos numa sociedade individualista atormentada por uma crise moral profunda - analisa Elizabeth. Nem mesmo o resultado da pesquisa do JB On Line muda a opinião do coronel Mendes. Para o oficial, a população de rua é a grande vilã da sensação de insegurança:

- É preciso mobilizar prefeitos de outras cidades do Grande Rio para ajudar o estado neste processo, afinal, muita gente, adulto e criança, se desloca de lá para a Zona Sul.

Com 1.100 policiais militares para garantir a segurança do metro quadrado mais caro do Rio de Janeiro, o coronel Mendes admite que é favorável à contratação de seguranças privados. De acordo com as associações comerciais, os condomínios e o comercio de Ipanema e Leblon gastam R$ 900 mil por mês com o salário de mais de 500 homens, a maioria deles desarmados. Nos últimos dez meses, mais de R$ 9 milhões foram investidos em mão-de-obra de vigias e guardas.

- Vejo com bons olhos porque eles ajudam a PM a identificar pessoas estranhas - diz.

Na quinta-feira, o coronel Mendes receberá o manifesto dos comerciantes da Rua Dias Ferreira, no Leblon. Eles pedem mais policiamento para evitar os constantes assaltos e garantir a segurança dos clientes na saída dos bares e restaurantes. A presidente da Associação Comercial do Leblon, Evelyn Rosenzweig, confirmou, ontem, que entregará o documento. Conforme o JB noticiou, a menos de dois meses do Natal, a queda no movimento atingiu 20% em setembro.

- Alguns políticos gostam de tirar proveito da questão de segurança, mas essas pessoas pouco contribuem para a melhorar a qualidade de vida do carioca - diz.

A sugestão dos vereadores Aspásia Camargo (PV) e Fernando Gusmão (PC do B) de voltar com o patrulhamento comunitário feito a pé por dois policiais - a dupla ''Cosme e Damião'' - foi rechaçada pelo coronel Mendes. Segundo ele, não há efetivo suficiente para garantir um policiamento eficaz devido à quantidade de ocorrências na área do 23º BPM. O JB tentou contato com a Secretaria Estadual de Segurança Pública para repercutir o resultado da enquete mas não houve retorno.