Título: Bielsa pede socorro a Washington
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Fonte: Jornal do Brasil, 04/11/2005, Internacional, p. A9

O ministro das Relações Exteriores da Argentina, Rafael Bielsa, telefonou para a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, para tentar destravar o impasse em torno da declaração final da Cúpula das Américas, causado pela insistência americana em incluir uma data de início das negociações para a instalação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) na declaração final que será assinada no sábado.

O diálogo durou meia hora e aconteceu enquanto Rice estava a bordo do avião presidencial. A poucas horas do término das negociações, o Mercosul (leia-se Brasil, Paraguai e Uruguai e Argentina) endureceu sua posição contra a reativação da Alca. O bloco sul-americano decidiu, ainda, propor que a declaração reconheça que não há condições para implementar o projeto, considerado prioritário para os interesses de Washington na região. Pelos planos iniciais, a área deveria ter entrado em vigor este ano, com queda gradual das tarifas alfandegárias. Com o impasse mais do que estabelecido, a decisão final ficou para os presidentes e chefes de Estado, o que anuncia um embate mais acirrado.

Já prevendo uma possível derrota diplomática, os EUA e um grupo de países com os quais Washington já tem acordos bilaterais, entre eles Chile, Costa Rica e México, esperam incluir uma alternativa. Seria a convocação de uma nova reunião ministerial o mais tardar em abril de 2006 para discutir o tema. Mexicanos e costarriquenhos divulgaram nota conjunta ontem, segundo a qual esperam retomar os debates no início do ano que vem ''a fim de chegar a uma conclusão a curto prazo''. Canadá, Colômbia e os países caribenhos também cerram fileiras em torno da Casa Branca.

- Cada país ou grupo de países mantém sua postura e nenhuma das partes parece disposta a ceder. Ninguém se mexe -, revelou uma fonte próxima aos negociadores argentinos, pedindo anonimato.

No outro extremo, está a Venezuela, cujo presidente, Hugo Chávez, é radicalmente contra os EUA. O chanceler de Caracas, Alí Rodríguez, disse que seu país rechaça a Alca. A proposta de Chávez, em torno da Alternativa Bolivariana (calcada na questão energética), também não foi contemplada.

- Assinamos a declaração final, mas não a Alca - disse Rodríguez.

O Mercosul consolidou uma posição unificada e apresentou um texto no qual o parágrafo referente à Alca não teve avanços em 10 anos, ou seja, desde a proposta lançada pelo então presidente Bill Clinton, em 1994, na 1ª Cúpula das Américas.