Título: O expresso da revolta
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 04/11/2005, Internacional, p. A9

A estação de Mar del Plata será a última parada hoje do ''expresso da revolta''. O trem anti-Bush, como é chamado, saiu de Buenos Aires, mas simbolicamente cruzou as Américas recolhendo ativistas que viajaram de vários países com um só objetivo: protestar contra a presença do presidente americano, George Bush, no balneário argentino. Poucas vezes se viu tamanho repúdio a um dignatário estrangeiro nas últimas décadas.

O expresso, que ameaça ofuscar a 4ª Cúpula das Américas, aqueceu as caldeiras em Washington, alimentado pelas denúncias envolvendo o alto escalão da Casa Branca, suspeito de manipular a opinião pública para justificar a guerra do Iraque. Pelo menos 200 personalidades participarão da marcha contra os EUA e a Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

A lista é longa. Vai do ex-jogador de futebol Diego Maradona, ao líder cocalero boliviano Evo Morales, passando pela americana Cindy Sheehan - transformada em símbolo do movimento pacifista ao acampar na frente do rancho de Bush em Crawford, Texas. Cindy e outras mães, que perderam seus filhos no Iraque, se juntarão às Mães e Avós da Praça de Maio no comboio. A manifestação após o desembarque contará com o venezuelano Hugo Chávez, que patrocina a viagem dos ativistas.

Fidel Castro não foi convidado para o encontro, mas enviou uma delegação de atletas para os protestos. Grupos radicais, como o ''piquetero'' Polo Obrero, também prometeram perturbar a cúpula.

Com índice de aprovação em 35% - o mais baixo que já obteve até hoje - Bush, que já está na cidade, vai se deparar com o maior protesto contra seu governo fora do país. Os passageiros farão uma passeata até o estádio local. Encerrada a cerimônia, todos se dirigirão às barreiras de ferro da zona de exclusão. Estima-se em 40 mil o número de participantes. O dirigente da Central dos Trabalhadores Argentinos (CTA), Juan González, avisou que o objetivo é fazer um protesto pacífico. A CTA convocou uma paralisação em todo o país e um ''banderazo'', que consistirá em espalhar bandeiras nacionais em casas e locais públicos.

- Esperamos isso, mas estamos preparados para responder com força - respondeu o comissário da polícia, Daniel Rodríguez.

Comerciantes fecharam suas portas. Empresas americanas, como a Blockbuster e o Citibank, tiveram a segurança reforçada e as janelas cobertas com chapas.

- Há barricadas em cada esquina, mas eles têm medo mesmo assim - disse um operário, colocando placas em mercados que temem saques.

Também assustada, a população sumiu. A tensão chegou até a Buenos Aires, onde empregados do metrô se recusaram a trabalhar durante a cúpula com medo de atentados terroristas.