Título: Barganha de peso no minério de ferro
Autor: Mariana Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 04/11/2005, Economia & Negócios, p. A22

A China deu largada à barganha para a formação de preços do minério de ferro no ano que vem. A idéia é desacelerar a produção das siderúrgicas para segurar as pressões de alta para os contratos que serão fechados em 2005. Analistas brasileiros que acompanham o setor de mineração, no entanto, avaliam que a estratégia chinesa naufragará até fevereiro, quando são dadas as cartas finais das negociações de preços.

- Que as siderúrgicas chinesas vão endurecer, não há dúvida. O spot (preço à vista) do minério de ferro realmente enfraqueceu nos últimos meses, para o mesmo patamar dos contratos de longo prazo, por volta de US$ 65 a tonelada - avalia o analista Paolo Di Sora, do Itaú.

Segundo diz, o movimento de mercado se explica pelo recuo da produção em setembro. De acordo com levantamento do International Iron & Steel Institute (IISI), a produção de aço bruto chinesa na virada de agosto para setembro ficou levemente mais baixa, de 30,45 milhões de toneladas para 30,35 milhões de toneladas, o que não se via há meses.

- Esse efeito no preço pode ser fruto do recuo na produção, o que não deve se manter até o ano que vem - estima. Sora projeta 15% de reajuste no preço do minério em 2006.

Um dos argumentos levantados pelas siderúrgicas chinesas é a concorrência da Índia, cuja produção do mineral é crescente, e que poderia reduzir a fatia do Brasil neste mercado.

Para a analista de mineração do HSBC, Luciana Doria, no entanto, não há competição.

- Os clientes da Vale do Rio Doce não devem embarcar nessa idéia, pois se não correm o risco de perder o valor agregado em seus produtos, uma vez que o minério brasileiro é de melhor qualidade - avalia.

Segundo Luciana, a choradeira indica que as negociações já começaram, mas as siderúrgicas não têm muito o que reclamar.

- As margens de lucro do setor estão elevadas e o aumento de 71,5% do minério no ano passado foi mais que compensado pela queda do preço do frete - constata.

A China é o principal mercado da Vale do Rio Doce, que exportou para o país US$ 710 milhões neste ano. A empresa informou que não comenta negociações para a formação de preços.