Título: Governo se blinda contra denúncia
Autor: Daniel Pereira e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 05/11/2005, País, p. A3

A descoberta da CPI dos Correios de que o PT teria recebido em caixa dois quase R$ 10 milhões de verba publicitária do Banco do Brasil fez com que o Planalto se preparasse para a guerra que a oposição promete travar. Ontem, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), e o presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Roberto Busato, admitiram discutir o pedido de abertura de processo de impeachment contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Enquanto setores da oposição elevavam o tom, o Planalto acendia o sinal de alerta. No governo, o assunto foi considerado potencialmente grave, embora careça de provas concretas na avaliação de um auxiliar palaciano. Diante do cenário preocupante, o ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner, foi convencido pelo presidente Lula da conveniência de permanecer em Brasília a fim de monitorar o desenrolar dos fatos durante o fim de semana. Wagner acompanharia o presidente na viagem a Mar del Plata, na Argentina, para participar da 4ª Cúpula das Américas.

Ontem, o ministro passou o dia reunido com assessores avaliando os efeitos da nova denúncia. Todos atentos à orientação do presidente Lula de muita cautela para evitar contradições nas respostas.

- Não podemos mentir, até para não sermos desmoralizados depois, atropelados pelos fatos - afirmou um auxiliar do presidente Lula.

De acordo com Virgílio, as informações prestadas pelo relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), sobre a triangulação entre Banco do Brasil, agências de Marcos Valério Fernandes de Souza e PT e partidos aliados, comprova a utilização de recursos públicos no esquema do mensalão.

- Em qualquer país do mundo, este moço estaria submetido a processo - disse o senador, referindo-se ao presidente Lula.

Virgílio reconheceu que o apoio popular ao presidente Lula pesará na decisão da oposição. Mas ressaltou que chegou a hora de debater se ''é justo ou decente'' continuar blindando Lula por ele contar com respaldo de movimentos sociais.

- É isso que tem feito as oposições moderarem a reação. Agora, você não pode passar a vida inteira com medo da CUT e do MST - acrescentou Virgílio.

Em viagem ao exterior, o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), também declarou, em nota à imprensa, que a operação divulgada pela CPI dos Correios demonstra a destinação de recursos públicos para abastecer o esquema do mensalão. Ele defendeu um pronunciamento do presidente Lula à nação sobre o caso. Já Roberto Busato disse que, com a nova denúncia, já foram descobertos a origem e o destino das verbas que abasteceram o mensalão.

- Havendo a comprovação dos fatos e diante da falta de transparência do presidente Lula na crise, todo o cenário é possível, inclusive o remédio amargo, o impeachment - afirmou o presidente da OAB.

No final da tarde de ontem, municiado de informações repassadas por integrantes da bancada petista no Congresso, o Planalto continuava a demonstrar ambivalência, ao reconhecer a gravidade da situação e, ao mesmo tempo, ressaltar a ausência de provas para sustentar que a verba do banco desaguou no chamado valerioduto. Todos concordavam sobre a delicada situação do ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato. Um dos raros momentos de alívio aconteceu quando foram informados de que as revistas de fim de semana também envolveriam os tucanos no esquema de Marcos Valério.