Título: Violência deixa autoridades acuadas
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Fonte: Jornal do Brasil, 05/11/2005, Internacional, p. A12

Revoltas populares chegam ao 8º dia e se ampliam para outros bairros da periferia de Paris

PARIS - A revolta iniciada nos subúrbios pobres de Paris chegou ao oitavo dia sem que as autoridades francesas consigam apresentar uma solução para o problema. O agravante é que os ataques não se restringem mais aos bairros nos quais o motim começou. Na madrugada de ontem, manifestantes incendiaram centenas de veículos, garagens, mais lojas e escolas. Autoridades locais disseram ter perdido a paciência com o primeiro-ministro Dominique de Villepin, que defende uma solução negociada para a questão. Villepin é confrontado pelo ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, partidário da solução policial.

Apesar de o número de ataques ter caído, segundo a polícia, as ações das gangues formadas por imigrantes africanos e muçulmanos árabes se tornaram mais ousadas. Foi o caso da destruição de 23 ônibus em um terminal de Trappes, Versalhes. E de uma dezena de carros queimados na garagem de um tribunal - à luz do dia. Também se multiplicaram para outras cidades onde é grande o número de imigrantes, como Rouen, Dijon e Marselha. Ao todo, 600 veículos foram queimados.

O padrão dos ataques também se tornou mais sofisticado, com os grupos evitando choques com a polícia e elegendo alvos como mercados e garagens.

- Estou cheia - dizia uma mulher enfurecida diante de uma mercearia destruída em Aulnay-sous-Bois. - Isso precisa acabar. Não está certo.

Prefeitos das áreas conturba das estão exasperados com a lentidão e o impasse dentro do governo. Em um encontro com Villepin, na quinta-feira, cobraram duramente providências depois que o primeiro-ministro lhes adiantou detalhes de um plano de ação que não entrará em vigor antes de dezembro.

- Vários de nós disseram que não era mais tempo de pensar em um plano de longo prazo - criticou o prefeito de Drancy, Jean Cristophe Lagarde. - Tudo que precisamos agora é de uma morte para que as coisas saiam completamente fora do controle - acrescentou. Até agora, quase 200 prisões foram feitas.

O ministro da Justiça, Pascal Clement, estava visivelmente abalado depois de conversar com uma mulher de 50 anos que ficou gravemente queimada no ataque ao ônibus em que viajava.

- É uma violência desmedida - disse ele em Bobigny, outra cidade do distrito de Seine-Saint Denis, entre o centro de Paris e o aeroporto Charles de Gaulle. A área foi a mais atingida.

- Penso que todos os franceses ficam chocados diante de cenas como essas - emendou.

Com os subúrbios em chamas se transformando em manchetes em todos os jornais do mundo, o ministério das Relações Exteriores preferiu reclamar do tom da cobertura. A preocupação é com a possibilidade de prejuízos à indústria do turismo.

Villepin passou a sexta-feira longe do público, no palácio de Mattignon. Os prefeitos continuaram a pressionar, temendo que as imagens despertem motins em suas cidades.

- Precisamos levar à essas pessoas uma mensagem de esperança - disse Manuel Valls, que dirige Evry, no Sul da capital.

Outro componente preocupante foi destacado por políticos conservadores. Em entrevistas ao longo do dia, vários destacaram ter informações de que a organização dos ataques está sendo coordenada por traficantes e militantes islâmicos.