Título: Rio perde espaço no PIB
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Fonte: Jornal do Brasil, 05/11/2005, Economia & Negócios, p. A17

Fraco desempenho da indústria leva estado a reduzir peso na economia. São Paulo chega ao mais baixo patamar em 20 anos

Os quatro estados mais ricos do país reduziram a participação no Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país) desde os anos 80. Em 1985, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul respondiam por 65,3% do PIB nacional, fatia que caiu para 61,5% em 2003. Essa é a mais baixa participação das quatro unidades da federação desde que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) iniciou a série, em 1985. Devido ao encolhimento da indústria de transformação, o Rio perde 0,4 ponto percentual em participação em um ano.

São Paulo foi o estado que mais contribuiu para esse resultado, tendo obtido, em 2003, a mais baixa participação no PIB de toda a sua série, 31,8% - contra 32,6% em 2002. São Paulo não cresceu em 2003 porque tanto a indústria (0%) como a agropecuária (-0,5%) sofreram com a retração do consumo das famílias. A laranja, segundo produto mais relevante da agropecuária do estado, teve uma queda de 10%, em função da redução da área plantada devido à ocorrência de uma praga nos laranjais paulistas.

Em seguida aparece o Rio de Janeiro, cuja participação no PIB caiu de 12,6% para 12,2%. O resultado do estado, entretanto, ainda é seu quarto melhor desde 1985. A indústria de transformação do Rio de Janeiro, que vinha com excelente resultado em 2002, quando cresceu 4,1% depois de sete anos consecutivos de queda, registrou em 2003 um recuo de 3%. O petróleo, ao contrário dos anos anteriores, não compensou a queda da indústria de transformação, com expansão de apenas 1,8%, no pior resultado em dez anos.

Das quatro maiores economias do país, apenas a do Rio Grande do Sul aumentou participação no PIB. Passou de 7,8% para 8,2% entre 2002 e 2003.

''Além de crescer na agropecuária (21%), o Rio Grande do Sul se destacou nos setores industriais voltados para as máquinas e implementos agrícolas, todos ligados ao avanço da agropecuária'', assinala a pesquisa de Contas Regionais do IBGE. Os setores industriais que contribuíram para o resultado foram a indústria mecânica (23%) e material de transporte (9%).

Se na região Sudeste houve queda na participação no PIB, o grupo de estados ligado à agroindústria (formado por Pernambuco, Goiás, Pará, Espírito Santo, Ceará, Amazonas, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) foi, por sua vez, o que mais avançou.

Segundo o IBGE, destacam-se todos os estados da região Centro-Oeste, além do Amazonas, que ao longo da série alcançaram as maiores taxas de crescimento.

Embalado pela agroindústria, o Centro-Oeste disparou na frente das demais regiões e cresceu o dobro do resto do país em 18 anos. O Centro-Oeste cresceu 103% de 1985 a 2003, enquanto o PIB brasileiro acumulou aumento de 55% no período. A região Sudeste, ao contrário, ficou abaixo da média nacional, com alta de 40%.

Fronteira da soja e do milho, Mato Grosso do Sul viu sua participação no PIB passar de 1,1% para 1,2% de 2002 para 2003. Mato Grosso pulou de 1,3% para 1,5% no mesmo período, enquanto Goiás, passou de 2,3% para 2,4%.

O salto da agroindústria no país nos últimos anos agrada os que torcem pela geração de divisas em decorrência dos recordes de exportações, mas deixa a desejar nas questões de emprego e meio ambiente. O coordenador de Contas Regionais do IBGE, Frederico Cunha, questiona até que ponto é favorável o crescimento do agricultura em detrimento da indústria brasileira. Em primeiro lugar, porque a indústria é grande geradora de postos de trabalho, enquanto latifúndios de soja pouco empregam.

- Não tinha nada e agora tem soja onde havia floresta, cerrado. Seria muito importante que estados como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul aliassem a questão ambiental ao crescimento da soja - diz o economista.

Cunha explica que não somente o salto da agroindústria em várias regiões reduziu a participação do Sudeste no PIB. A guerra fiscal, bem como a decisão de empresários de instalar fábricas próximas ao consumo, descentralizaram o parque fabril, antes concentrado no Sudeste.

Com Sabrina Lorenzi